quinta-feira, 24 de agosto de 2017

ICNF não disponibiliza dados públicos sobre novas plantações de eucalipto referentes aos últimos 6 meses

Com a aprovação, pelo Parlamento, da Lei n.º 77/2017, de 17 de agosto, que altera a “lei que liberaliza a plantação de eucaliptos” (designação do Programa do Governo), torna-se evidente a necessidade de controlo e transparência, por parte do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF, IP), na gestão nacional da área global destas plantações de forma a que a mesma se aproxime progressivamente dos valores fixados na versão mais recente da Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), no caso a aprovada pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 6-B/2015, de 4 de fevereiro.


A Lei n.º 77/2017, de 17 de agosto, integra o pacote legislativo designado, pelo Governo, por “reforma da floresta”.

A ENF, na sua versão de 2015, estabelece para 2030 a mesma área global de plantações de eucalipto inventariada em 2010, no âmbito do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6), de 811.943 hectares (a 5.ª maior área a nível mundial, a 1.ª em termos relativos). Ou seja, no período 2010-2030 a taxa de variação definida pela ENF para as plantações de eucalipto é de 0%.

Todavia, só em 2016, de acordo com dados do ICNF, a área validada e autorizada para novas plantações de eucalipto ascendeu a 35 Km2, próximo da superfície global do concelho do Barreiro.

De acordo com o mesmo Instituto, entre outubro de 2013 e dezembro de 2016, a área de novas plantações de eucalipto, validadas e autorizadas pelo ICNF, ultrapassou os 77,5 Km2, de um total de cerca de 400 Km2 de validações e autorizações envolvendo eucaliptos (quatro vezes a superfície do concelho de Lisboa).

Assim, só em novas plantações de eucalipto, em 2016 foram validadas e autorizadas pelo ICNF mais de 45% da área total das arborizações com esta espécie exótica no período de outubro de 2013 a dezembro de 2016. A este propósito, importa ter em atenção as declarações do ministro da Agricultura em audição no Parlamento, a 28 de junho último.

Sobre o controlo e a transparência das atribuições conferidas ao ICNF, importa ter em conta a gestão errática como este Instituto tem trazido a público as informações sobre as ações de arborização e rearborização referentes ao respetivo regime jurídico. As notas informativas são difundidas casuisticamente, em períodos de tempo que dificultam comparações semestrais e anuais. De uma periodicidade semestral passou a anual.

Por outro lado, sobre o controlo, este Instituto não identificou uma divergência de cerca de 4 mil hectares de plantações de eucalipto, manifestada pela Acréscimo relativamente à quantidade de plantas de eucalipto comercializadas pelos viveiros florestais. Aliás, desconhece qualquer controlo baseado no rastreamento de plantas de viveiro face a (re)arborizações envolvendo eucalipto. Anualmente, os viveiros florestais produzem cerca de 30 milhões de eucaliptos.

Ainda sobre os investimentos em plantações de eucalipto, desconhece-se o uso de critérios de avaliação financeira dos processos de licenciamento, que permitam estimar da capacidade dos investidores (proprietários rústicos) em fazer face aos encargos de uma adequada gestão das plantações. O risco destas na área ardida total e em floresta têm uma tendência crescente ao longo das últimas duas décadas. Quer em 2016, quer em 2017, o impacto das plantações de eucalipto na propagação de incêndios tem revelado enormes deficiências quanto à gestão das mesmas.


Pelo impacto nos incêndios, não é social, ambiental e economicamente aceitável a falta de transparência e a ausência de um sistemático controlo às variações da área global das plantações de eucalipto. Não é admissível esperar por 2030 para comprovar uma variação de área de 0%, até porque é extremamente deficiente o controlo de plantações ilegais.

Exige por isso a Acréscimo que o ICNF evidencie um comportamento adequado à Lei, digno de um Instituto Público, assegurando os seus dirigentes que o mesmo não tem um comportamento de braço direito da indústria papeleira, tal como o revelou aquando da sua criação.


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