A QUERCUS e a ACRÉSCIMO confrontaram as informações difundidas
pela CELPA, Associação da Indústria Papeleira sobre as florestas, a atividade
silvoindustrial e a fileira da pasta e papel em Portugal, com as estatísticas oficiais
disponíveis e chegaram a conclusões.
Eis os 12 itens essenciais:
1.
Em Portugal, 98% da área florestal é detida por famílias?
Não! Em Portugal, o Estado dispõe apenas de 1,6% da área florestal
nacional. A indústria papeleira detém cerca de 6,5%, muito embora, entre 2001 e
2010, a
mesma tenha registado uma contração, apenas em plantações de eucalipto,
superior a 33,8 mil hectares, Da área restante, as áreas comunitárias, os baldios,
representam cerca de 12%.
Assim, as famílias serão detentoras de cerca de 80% da área
florestal nacional
2.
Existem 400.000 proprietários com plantações de eucalipto em
Portugal?
Não existem estatísticas fiáveis, pela ausência de cadastro
rústico em parte significativa do país, quanto ao número de proprietários
rústicos detentores de superfícies florestais.
O número de 400.000 proprietários é um valor desactualizado
relativo ao total de proprietários florestais que detêm várias espécies e não
apenas dos produtores de eucalipto.
Através das Finanças, em dados de 2006, sabe-se que o número
total de prédios rústicos em Portugal ascende a quase 11 milhões, sendo que, em
14 dos 18 distritos do continente, a área média dos prédios é de 0,57 hectares .
3. As plantações de eucalipto representam apenas 13% da área ardida
em Portugal?
Não! Nos últimos 20 anos, a área de plantações de eucalipto em
Portugal registou um acréscimo superior a 100 mil hectares. O seu envolvimento
na área ardida tem crescido substancialmente.
Em 1996 as plantações de eucalipto representavam 3% da área
ardida total e 13%, da área ardida em floresta.
Em 2015 a
área ardida de eucaliptal representou 17% do total e 45% da área de povoamentos
florestais ardidos.
4. A área de plantações de eucalipto em Portugal é objeto de uma
adequada gestão?
Não! A par do que acontece com outras ocupações florestais,
também a área de plantações de eucalipto evidencia enormes debilidades no que
respeita à sua gestão. Uma grande parte dos eucaliptais em minifúndio do centro
e norte do país, não tem qualquer gestão de silvicultura preventiva durante a
década até ao corte.
Assim, de acordo com os últimos dados disponíveis do Inventário
Florestal Nacional (IFN5), da área nacional ocupada por eucalipto, em cerca de
11% trata-se de povoamentos mistos com pinheiro-bravo, em cerca de 9% o coberto
é inferior a 50%, em cerca de 49% a densidade é inferior a 600 árvores por
hectare, e em cerca de 12% a idade das plantações ultrapassa os 12 anos. Todos
estes são indicadores de deficiente e má gestão.
5.
A área de plantações de eucalipto está 100% certificada?
Não! A área ide plantações de eucalipto dos grupos industriais
associados na CELPA, cerca de 19% da área total de eucalipto a nível nacional (segundo
dados provisório do 2010, IFN6), estão certificadas pelos sistemas FSC e PEFC.
As áreas totais das empresas associadas na Celpa representam 56% da área
certificada pelo FSC e 78% da área certificada pelo PEFC.
6.
A produção de rolaria de eucalipto é um negócio rentável?
Se avaliado o negócio da produção de rolaria de eucalipto
conforme os dados apresentados no simulador “Análise Financeira
para o Eucalipto”, desenvolvido pela própria indústria papeleira, os
resultados positivos tendem a aparecer.
Importa, contudo, ter em consideração as limitações de tal
simulador. O mesmo tem uma fortíssima limitação para 14 dos 18 distritos do
continente, onde a área média dos prédios é de 0,57 hectares , ou
seja, onde o minifúndio acarreta custos específicos não considerados. Por
exemplo, o encargo considerado de 1.350 euros/hectare de instalação de um
eucaliptal, em minifúndio, pode atingir os 3.000 hectares/hectare.
É de realçar ainda o facto de os valores de custos apresentados no
simulador estarem aquém dos valores de referência, para as operações em causa,
definidos por comissão de acompanhamento sediada no Ministério da Agricultura.
Por último, as simulações ocorrem a 24 anos (2 cortes a cada 12
anos), não incluindo valores relativos a cortes posteriores, com produtividades
decrescentes, bem como o encargo final de replantação ou reconversão do uso do
solo para outras produções. Este último, em minifúndio, pode atingir os 2.000
euros/hectare.
7.
A fileira do eucalipto combate o despovoamento?
Não! A expansão de plantações de eucalipto em regiões
despovoadas do interior em nada contribuiu para contrariar o êxodo rural. A
cultura do eucalipto baseia-se em praticas culturais simples e numa procura que
se centra, sobretudo, no litoral, longe de regiões de baixa densidade
populacional. A principal exceção ocorre em Vila Velha de Ródão,
onde a atividade industrial se tem caracterizado por um elevadíssimo custo
ambiental.
8.
O sector florestal representa 100 mil postos de trabalho?
Não! No seu conjunto, a silvicultura e as indústrias florestais
sustentam, de acordo com dados de 2013, cerca de 66 mil postos de trabalho. A
silvicultura é responsável por cerca de 5 mil postos de trabalho e as indústrias
florestais, nas suas diferentes fileiras, por cerca de 61 mil empregos.
9. O sector florestal em Portugal representa 5% do PIB?
Não! De acordo com os dados do INE, em 2013 o Valor Acrescentado
Bruto do sector florestal representava 1,2% do PIB. A indústria papeleira tinha
um peso de 0,5% do PIB.
10. As importações de eucalipto
para a indústria papeleira têm aumentado?
Não! No que respeita às importações de rolaria de eucalipto,
tem-se assistido a uma redução desde 2013, isto, apesar do aumento nas aquisições.
11. As plantações de eucalipto
têm tido um impacto relevante no sequestro de carbono em Portugal?
Não! No curto prazo o sequestro de carbono é mais rápido pelo
eucalipto, contudo, em termos de cenários das alterações climáticas é mais
relevante que o carbono fique armazenado no máximo período de tempo, o que se
anula com o corte e transformação industrial do eucalipto.
Há que ter ainda em conta o desempenho crescente das plantações
de eucalipto na área ardida, pelo que importa avaliar o saldo entre o ganhos e
as perdas decorrentes das emissões libertadas pelos incêndios.
12. Para tornar rentável a
operação industrial de produção de pasta e de papel o país carece de maior área
de plantações de eucalipto?
Não! Quanto muito será oportuna a aposta em qualidade e na
produtividade por área. Ora, o que a CELPA agora defende são novas plantações
de eucalipto, aumentando as monoculturas com os riscos associados.
A informação difundida pela indústria
papeleira em Portugal está demasiado fundamentada em mitos, pouco na realidade.
____________
INFORMAÇÃO ADICIONAL:
1.
Portugal é, na União Europeia, o Estado Membro como menor área
de floresta pública.
2.
Ao nível dos mercados, uma procura fortemente concentrada, como
ocorre na fileira do eucalipto, implica uma forte capacidade negocial do lado
da oferta, facto que se torna inviável para muitas famílias, mais ainda na
ausência de regulação por parte do Estado.
3.
No que respeita ao impacto das plantações de eucalipto, a
evolução registada evidencia uma tendência bem definida, sobretudo, no que
respeita à área ardida em povoamentos florestais.
Ou seja,
mais expansão, maior o risco.
Na
primeira década do século, as plantações de eucalipto assumiram destaque na
distribuição da área de povoamentos ardidos por espécie
4.
Importa ter em conta que, apesar de uma expansão em área de
cerca de 100 mil hectares, registado entre 1995 e 2010, a produtividade média
anual manteve-se em cerca de 6 metros cúbicos por hectare e ano.
5.
Admitindo que as plantações de eucalipto são maioritárias na
área florestal sujeita a certificação da gestão, importa ter em conta que o FSC
tem certificados um total de 377 mil hectares (a 02/05/2017), o PEFC de 257 mil
hectares (a 29/05/2017), que existem interseções de áreas entre os dois
sistemas, e que o universo é de 812 mil hectares de plantações de eucalipto a
nível nacional, segundo dados oficiais de 2010.
6.
Simulador “Análise Financeira para o Eucalipto”, desenvolvido
pela Celpa, Associação da Indústria Papeleira, com cofinanciamento do PDR2020:
Matrizes
da CAOF, Comissão de Acompanhamento das Operações Florestais:
7.
A cultura do eucalipto ajusta-se, sobretudo, a proprietários
ausentes do meio rural, com atividade profissional e rendimento familiar
oriundo principalmente de outras origens, ou a proprietários que, embora
residentes junto das suas propriedades, não tenham já condições físicas para a
exploração de ocupações do solo mais exigentes em termos culturais. Em última
análise, pode ser associada a uma cultura que estimula a preguiça.
Não
existem indicadores oficiais que relacionem a expansão das plantações de eucalipto
com a fixação ou aumento da população rural.
8.
Entre 2002 e 2011, apesar da expansão da área de plantações de
eucalipto em Portugal e do aumento da capacidade instalada na indústria
papeleira, o número de postos de trabalho no conjunto das indústrias florestais
contraiu em mais de 32 mil empregos.
Aparentemente,
o emprego no sector florestal depende de outras condicionantes, não do aumento
da área de plantações de eucalipto ou do acréscimo de capacidade instalada por
parte da indústria de pasta e papel.
9.
No que respeita à evolução do saldo da balança comercial por
indústria florestal, no período de 2008 a 2011, os aumentos mais significativos
ocorreram nos produtos resinosos (3.894%) e na indústria do mobiliário (386%).
10.
De acordo com os dados disponibilizados pela associação da
indústria papeleira:
11. A floresta nacional é um
reservatório de 265 Mt CO2eq [de carbono] e sequestra 13,5 Mt CO2eq
por ano. Tratando-se de uma espécie de crescimento rápido, a eficiência de
sequestro e potencialmente mais evidente no eucalipto face a outras espécies.
Os
incêndios têm um impacto considerável nas emissões de gases de efeito estufa.
Para o ano de 2003, estima-se que os gases libertados tenham ascendido a 7,39 Mt de CO2 eq
(nesse ano a área ardida em povoamentos correspondeu a 51% da área ardida
total, sendo que a área ardida em eucaliptal correspondeu a 18% da área ardida
total e a 35% da área ardida em floresta).
12.
Portugal dispõe da 5.ª maior área de plantações de eucalipto a
nível mundial. Em termos relativos, Portugal assume a 1.ª posição.
Apesar da
área disponível, o país regista uma produtividade média muito baixa, de cerca
de 6 metros cúbicos
por hectare e ano.
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