segunda-feira, 23 de outubro de 2017

A Acréscimo acusa de pouco séria e nada transparente a aposta do Governo no uso da biomassa florestal para a produção de energia elétrica

O Governo anunciou, através do ministro da Economia e no decurso da sessão extraordinária do Conselho de Ministros dedicada às florestas e à proteção civil, a intenção, ainda não quantificada, de apostar em biorrefinarias e em centrais a biomassa, com a justificação da diminuição dos incêndios e proteção das populações.


Importa ter em conta que, no País, a capacidade instalada, quer em centrais a biomassa florestal residual, quer em unidades de produção de pellets de madeira, há muito que ultrapassa a disponibilidade anual de biomassa florestal residual. Ou seja, já no presente, mas com maior impacto no futuro próximo, tais unidades só serão viáveis pela utilização de troncos de árvores ou pela instalação de monoculturas de espécies dedicadas à produção energética. Por outro lado, a ocorrência de incêndios florestais constitui uma importante fonte de garantia de matéria prima a estas unidades.

Importa ter ainda em conta que as unidades que o Governo anuncia estimular só têm viabilidade financeira se apoiadas duplamente pelo erário público. Seja através do apoio público na obtenção da matéria prima, seja ao nível de apoios à tarifa elétrica. Um 1 com 2 de suporte!


Se a intenção do Governo é intervir na redução da carga combustível nas florestas, existem opções significativamente menos onerosos e até sem custos para o erário público.

Importa assim que o Governo esclareça a sua opção pelo apoio publico a centrais termoelétricas de transformação de biomassa de origem florestal, que afirmam ser residual, face a outras alternativas. Existem várias, que alem do mais, têm muito maior impacto no emprego em meio rural, logo no combate ao despovoamento.


Se a intenção do Governo passa pela afetação de milhões de euros para proteção à atividade económica associada à silvicultura e a regiões de forte ocupação florestal, existem opções de maior urgência.

Para a proteção imediata à atividade económica associada à silvicultura, urge a tomada de medidas ao nível do controlo da oferta. A criação de estufas de preservação da madeira ardida é fundamental para assegurar uma gradual entrada nos mercados dessa madeira, impedindo a queda brusca do seu preço. Essa medida é ainda mais premente ao nível da madeira ardida em áreas públicas, muita dela de maior valor comercial e para não afetar ainda mais o escoamento da madeira ardida dos proprietários privados.

Ao nível da proteção da atividade económica em regiões de forte ocupação florestal, também para segurança das populações, os montantes que o Governo pretende atribuir às bioenergias, podem ser utilizados no reforço à proteção de encostas e cursos de água, prevendo futuras catástrofes associadas a deslizamentos de terras e cheias.
  

Se a intenção do Governo é a de garantir a sustentação do apoio a grupos empresarias à custa do Orçamento, terá de a assumir politicamente, sem rodeios ou falsos anúncios de dar prioridade à segurança das populações, às florestas e à atividade silvoindustrial.

A aposta nas bioenergias tem vindo a criar forte resistência a nível europeu e mundial, face aos impactos nefastos a que estas estão associadas. No caso da biomassa florestal esses impactos têm tido expressão na redução do coberto arbóreo, inclusive em florestas ancestrais europeias.

Importa relembrar que Portugal ocupa o quarto lugar, a nível mundial, na perda relativa de coberto arbóreo registado entre 2001 e 2014, face ao que dispunha em 2000. Acima de Portugal estão a Mauritânia, o Burkina Faso e a Namíbia.

No presente ano regista-se uma significativa perda de coberto arbóreo no País, associada aos mais de meio milhão de hectares ardidos. Importa aferir quanto desta perda de coberto arbóreo se traduzirá em desflorestação. Desde 1990, Portugal regista uma desflorestação média anual superior à superfície da cidade de Lisboa (10 mil ha/ano). Os acontecimentos deste ano não auguram nada de bom a este nível.


A justificação dada pelo Governo, quanto ao papel das centrais a biomassa florestal na redução do risco de incêndio florestal, foi em 2013 desmistificado pelo Parlamento.


Sem comentários:

Enviar um comentário