No âmbito do período de consulta pública do
Programa de Revitalização do Pinhal Interior,
elaborado nos termos do n.º 4 da Resolução do Conselho de Ministros n.º
101-A/2017, de 12 de julho, é desenvolvida a presente apreciação.
A apreciação global ao programa é negativa.
O documento evidencia a adoção de uma
estratégia de abordagem top to down,
cujo enquadramento histórico tem sido contraproducente. Efetivamente, não se
visualiza uma abordagem direta às comunidades atingidas, seja ao nível de aldeia,
seja de freguesia.
Com efeito, no que respeita à entidade
responsável pela elaboração do programa em apreço, não basta a deslocalização
da sua sede de Lisboa para o interior, há que contrariar os vícios do
planeamento centralizador. Não há evidencias de ter sido o caso! Não há
revitalização sem um envolvimento efetivo da população, este não ocorre sem uma
auscultação prévia às suas necessidades, aos seus objetivos, à quantificação e
qualificação da sua capacidade de mobilização.
Numa pesquisa sumária a palavras chave, no
que respeita ao contributo potencial do programa para a fixação das populações,
para a valorização das suas atividades, não apenas ao nível da diversificação
da produção e transformação de bens, mas igualmente na prestação de serviços
vários, bem como para a preservação e a conservação do património cultural e
ambiental, da informação e da formação, é registado um nível de ocorrências mediano,
embora a mesma seja concretizada, como atrás referido, numa perspetiva top to down.
Regista-se um insuficiente enfoque nas
famílias, na sua sustentação a curto e médio prazos no território.
A centralização do programa nas florestas, ou
melhor, na silvicultura, pode ocasionar condicionalismos não desprezáveis no
contexto familiar, concretamente face às caraterísticas especificas associadas
ao investimento neste domínio, como são um retorno de medio (frutos
secos/resinagem/lenhicultura) e longo (madeira, cortiça) prazo, ou os elevados
riscos associados. Estes últimos são não apenas confináveis aos incêndios
rurais, mas também ao forte impacto das pragas e das doenças.
Mais, tendo em consideração os fenómenos
associados às alterações climáticas, as recomendações internacionais relativas
à preservação do solo, dos recursos hídricos, de defesa dos territórios contra
os incêndios rurais, de segurança alimentar, do rendimento familiar rural, do
emprego rural, seria de esperar uma maior aposta do programa nos sistemas
agroflorestais, porquanto estes permitem equilibrar a obtenção de receitas de
curto, médio e longo prazo, protegendo melhor as populações e,
consequentemente, o território (humanizado, como é o caso).
Mesmo num enquadramento centralista, o
programa evidencia condicionantes não desprezáveis para o sucesso, sendo estas centradas
em três tópicos:
- A difusão de medidas e ações sem
se evidenciar uma visão, uma articulação global efetiva para resultados
concretos, ou seja, que evidencie que ocupação do território se pretende ter no
final do programa;
- A dispersão de responsabilidades por múltiplas
entidades, sem se evidenciar a capacidade da coordenação, ou seja, se essa entidade tem o peso político e
administrativo compatível com as necessidades de uma escorreita operacionalização
do programa, seja ao nível da execução financeira, seja da execução física; e,
- A desresponsabilização do Estado,
designadamente no que respeita à garantia de uma gestão florestal sustentável,
pela transferência de atribuições para instrumentos de mercado, como são os
sistemas de certificação florestal, bem como pela ausência de um serviço de
extensão isento de interesses comerciais, a par de instrumentos de regulação
dos mercados, hoje a funcionar em modo de concorrência imperfeita, ou em regime
de sucção de áreas de baixa densidade populacional.
Em conclusão, à
exceção das ações de curto prazo, de consolidação de encostas e de proteção das
linhas de água, a Acréscimo recomenda que o programa seja repensado.
No exercício
de reelaboração que se propõe, para além da determinante auscultação prévia das
comunidades, deverá ter-se em consideração as conclusões da Comissão Técnica
Independente, instituída a nível do Parlamento, bem como do que se perspetiva
para os planos regionais de ordenamento florestal. Em todo o caso, no que
respeita aos PROF, as nossas expetativas são muito baixas.
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