Registamos as declarações do presidente da
Altri no final do passado mês de outubro, as quais primam pelo equilíbrio,
especialmente face à postura hipócrita do outro player na produção de pasta celulósica
em Portugal. Relembra-se a propósito o título do Jornal I, de 15 de maio de 2012.
Existem contudo dois aspetos que merecem ser questionados.
1. Face à alegada escassez de matéria-prima, como justificará o
presidente da Altri a redução de áreas próprias de eucaliptal e de pinhal bravo
por parte das empresas de celuloses entre 2002 e 2011? Faz-se notar que os números
a que tivemos acesso, através da CELPA – Associação da Indústria Papeleira, não
nos permitem desdobrar essa redução por empresas. Todavia, os números potenciam,
no seu conjunto, uma redução na capacidade de autoabastecimento das empresas (não
sendo contrariadas pelo aumento da produtividade unitária), bem como a transferência
do risco do negócio para centenas de milhares de famílias que asseguram o
abastecimento a esta indústria e, em última análise, para os contribuintes
(quer no financiamento da florestação de pinhal bravo – pelos apoios da PAC – e
do eucalipto – pelos benefícios fiscais às empresas industriais, quer no
pagamento dos elevados e injustificáveis encargos económicos, sociais e
ambientais decorrentes dos incêndios florestais).
Fonte: Celpa - Associação da Indústria Papeleira. Boletim Estatístico 2011.
2. É usual os industriais fazerem referência aos apoios públicos para
a alegada viabilização dos respetivos negócios silvo-industriais. Não
constituirá tal facto um abuso? Não deveria a sua atividade ser impulsionada
com base em negócios decorrentes de relacionamentos win-win, ao invés de
reclamarem insistentemente o apoio dos contribuintes?
Não existirá demasiado "apelo" aos
contribuintes, quer na promoção quer na assunção dos riscos nos principais negócios
silvo-industriais em Portugal?
Temos esperança em obter respostas às questões
ora colocadas.
Um verdadeiro comentário à bloco de esquerda...
ResponderEliminarCom o devido respeito pelo partido político, estamos em crer não estar o Bloco de Esquerda devidamente capacitado para um comentário desta natureza.
EliminarEste comentário foi removido pelo autor.
ResponderEliminarAjudemos ao debate:
ResponderEliminar"A diferença entre um pinhal e um eucaliptal, igualmente bem ou mal geridos, é muito mais pequena que a diferença entre um pinhal ou eucaliptal bem gerido e um pinhal ou eucaliptal mal gerido."
http://www.publico.pt/ecosfera/noticia/bemvindo-maldito-eucalipto-1584863
Estamos certos que a frase tem um forte pendor filosófico.
ResponderEliminarEm todo o caso, a nossa postura não se assume numa disputa entre espécies, mas sim entre floresta que proporciona rendimentos que permitam custear uma adequada gestão florestal (não apenas no plano técnico, mas também no comercial), preferencialmente sustentável, e entre uma floresta gerida pelo modelo do abandono, essa com forte impacto (social, ambiental e económico) nas pessoas.
Ou seja, vemos a floresta (98% privada, 80% detida por centenas de milhares de famílias) mais pelas pessoas, pelo seu bem estar, presente e futuro, com gestão associada ao conceito de desenvolvimento sustentável e aos princípios de responsabilidade social, do que pelas árvores que nelas habitam.