A
indústria papeleira portuguesa goza de alguns mitos, propagandeados amiúdas vezes
por algumas figuras públicas. Comportará a realidade tais mitos?
1. O peso da indústria
papeleira nacional na economia e, em particular nas exportações, tem sido o
mais em voga ultimamente.
Contudo, se por um lado se refere o
contributo da indústria papeleira na Economia, por outro verifica-se a
diminuição abrupta do peso do conjunto das indústrias de base florestal no
Produto Interno Bruto (PIB) – já de si em decréscimo ao longo da última década.
O peso das indústrias de base florestal no PIB era de 2,2% em 2000, é em 2010
de apenas 1,3%. Os propagandeados 3,0% de peso do setor florestal no PIB
(floresta + indústrias de base florestal) foi-o sim em 2000, mas em 2010 é de apenas
de 1,8%.
A importância da indústria papeleira
nas exportações, em valor bruto, tem correspondido ao aumento do peso das
importações de material lenhoso. Importações essas provenientes de países com uma
gestão duvidosa do seu património florestal.
Ao aumento da rentabilidade do
negócio da pasta e do papel tem correspondido um declínio acentuado do negócio
silvícola, bem como a transferência do risco desse mesmo negócio, quer para as centenas
de milhares de famílias que se dedicam à produção de material lenhoso, quer em
última instância, para os
contribuintes.
A indústria papeleira nacional tem
hoje uma capacidade de autoabastecimento miserável, próxima dos 20% (sendo que
no Grupo Portucel Soporcel ronda os 16%.
A presença da indústria papeleira na
floresta (a área de maior risco do negócio) é cada vez menor. Só na última
década as áreas próprias de eucalipto diminuíram cerca de 34 mil hectares. Parece
verificar-se assim um desinvestimento progressivo na floresta e, consequente, uma
transferência do risco do negócio para as centenas de milhares de famílias que
contribuem para o abastecimento desta indústria.
2. Os awards de
excelência da gestão é um outro mito.
Para a excelência da gestão muito
tem contribuído a unilateral imposição dos preços do material lenhoso à
produção florestal. Imposição essa protegida pelo Estado, em completo desacordo
com os princípios de equidade e do salutar funcionamento dos mercados. O luxo
da cogeração tem constituído um outro fator favorável ao bom desempenho da
gestão.
Por outro lado, só a Portucel
Soporcel, em benefícios fiscais concedidos pelo Estado, obteve em 2010 e 2011 uma
receita extraordinária global de cerca de 50 milhões de euros.
3. O desempenho na inovação
é mais um.
Apesar de ter decuplicado a área de
eucaliptal nos últimos 30 anos, a produtividade do eucaliptal nacional remonta
a valores já diagnosticados no final dos anos 20 do século passado. Tendo
investido no passado em I&D, a indústria papeleira abandonou esta área,
apostando na produção em quantidade ao invés da qualidade. Todavia, os riscos
da produção em quantidade têm sido imputados à Sociedade.
Afinal, tudo leva a crer que os
mitos associados à indústria papeleira em Portugal não passam de isso mesmo, de
mitos. Na realidade, os sucessivos
governos têm protegido os interesses económicos dos acionistas, fiscalmente
sedidados na Holanda, proteção essa exercida em detrimento das famílias, das
florestas e do Território.
Seguramente, não é este o tipo de investimento, extrativo e insustentável, que
a Acréscimo defende para os espaços florestais e para o setor industrial de
base florestal em Portugal.
A propaganda atingiu o seu clímax histórico com o Sr. Himmler.
ResponderEliminarA receita (que nunca mais se perdeu) era misturar meias verdades, com mentiras descaradas e ligá-las com ódio.Muito ódio.
É o que leio aqui. Propaganda (se a houver) não se combate com mais propaganda. É por isso que venho criticando a Acréscimo (e a sua direcção) depois de me ter entusismado e iludido com a sua criação.
João M. A. Soares