segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Incêndios e reforma das florestas: a posição adiada do Ministério da Agricultura

O Programa do XXI Governo Constitucional, no que às florestas respeita, menciona expressamente o “incremento da resiliência do território, minimizando os riscos associados à ocorrência de acidentes graves e catástrofes”. Expressa ainda a intenção de travar “a expansão da área do eucalipto, designadamente através da Revogação da Lei que liberaliza a plantação de eucaliptos, criando um novo regime jurídico”.

Ora, existe uma ligação entre estes dois propósitos. Tendo por base os dados mais recentes do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), entre 2000 e 2011, dos incêndios que vitimaram povoamentos florestais, 43% ocorreram em plantações de eucalipto. Tendo em conta os riscos acrescidos neste domínio subjacentes às alterações climáticas, o baixo nível de gestão dos eucaliptais nacionais e o modelo subjacente à sua expansão, de uma oferta de risco, não será difícil concluir por essa forte ligação. Neste sentido, têm sido vários os autarcas que, nos últimos dias, têm vindo a público manifestar as suas preocupações quanto à insegurança das plantações de eucalipto nos territórios sob a sua tutela.


Todavia, a intenção de proceder à revogação do Regime Jurídico das Ações de Arborização e Rearborização (RJAAR), publicado pelo Decreto-lei n.º 96/2013, de 19 de julho, anunciada recentemente (17/08/2016) pelo ministro da Agricultura, Florestas e Desenvolvimento Rural, após uma semana crítica de incêndios rurais, havia já sido anunciada, em Comissão de Agricultura e Mar, na Assembleia da República, a 19 de janeiro. Mais, no compromisso assumido, há mais de meio ano, no Parlamento, o Governo expressou vir a ter concluído um diploma “dentro de duas a três semanas”. Vamos já em sete meses!

Ainda neste domínio, a Acréscimo questionou o Ministério sobre o controlo das cerca de 30 milhões de plantas de eucalipto produzidos anualmente pelos viveiros florestais, parte significativa dessa produção afeta às empresas de celulose, em projetos do RJAAR envolvendo esta espécie. A produção dos viveiros florestais é certificada pelo Ministério. Quantos milhões dessas plantas estarão afetas a projetos legais, no âmbito do RJAAR, quantos milhões delas poderão estar envolvidas em projetos ilegais? Esta associação não registou até hoje qualquer resposta.

Das intenções à concretização tem-se constatado, em matéria de política florestal, enormes desajustes nas últimas décadas. Este é, pois, um momento para alterar este status quo, sendo certo que, a não ocorrer, estará em causa, mais uma vez, a credibilidade da ação politica na área das florestas, a par do “incremento da resiliência do território” e da minimização dos “riscos associados à ocorrência de acidentes graves e catástrofes”.


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