O mês de março é tradicionalmente motivo de comemoração da
primavera, das árvores e das florestas. Sobre estas últimas, a Acréscimo
levantará vários conjuntos de questões sobre a sua situação em Portugal. O terceiro
conjunto respeita à análise do financiamento público às florestas portuguesas
no âmbito da Política Agrícola Comum (PAC).
1.
Portugal tem beneficiado dos
apoios públicos às suas florestas?
A Acréscimo tem colocado
ao Ministério da Agricultura um conjunto de 12
questões sobre os apoios públicos, definidos no âmbito da Política Agrícola
Comum (PAC), às florestas portuguesas. Não obteve ainda respostas. Entende-se, elas não podem ser positivas!
Com efeito, desde 1990
foram já anunciaados para as florestas portuguesas mais de mil milhões de euros
em apoios públicos. Desde essa altura, a área florestal nacional tem contraído
a um ritmo médio anual de 10 mil hectares. Desde
1990, o país tem uma desflorestação anual superior à área da cidade de Lisboa
(100,05 Km2).
Deste modo, apesar de ser
vital para o desenvolvimento das atividades florestais em Portugal, o
financiamento público, tal como tem sido atribuído, não tem correspondido, em
retorno económico, ambiental e social, ao esforço financeiro desenvolvido pela
Sociedade.
2.
A produção florestal
portuguesa tem beneficiado dos apoios públicos?
Aparentemente, face aos
montantes de centenas de milhões de euros anunciados a cada Quadro Comunitário
de Apoio, tudo levaria a crer que a produção florestal portuguesa tem
beneficiado dos apoios definidos no âmbito da PAC e dos Orçamentos do Estado.
Na realidade, os
indicadores não o confirmam, pelo menos no que respeita às principais espécies
florestais objeto desse apoio. Felizmente, embora ainda com expressão reduzida,
têm existido exceções em espécies com menor expressão na área florestal
nacional.
Se avaliado o benefício das
ajudas públicas pelo desempenho ao nível do rendimento silvícola, o resultado desse
financiamento às florestas tem sido substancialmente negativo.
Ora, o
rendimento é essencial a uma gestão florestal que garanta o retorno,
legitimamente esperado pela Sociedade, dessa sua aplicação financeira nas
florestas em Portugal. Sem essa gestão garantida, os riscos associados ao
investimento privado e público assumem um indesejável destaque.
Infelizmente, nas principais
fileiras florestais nacionais, o funcionamento dos mercados em concorrência
imperfeita tem condicionado o rendimento silvícola. O impacto nas espécies que
são objeto de um mais expressivo financiamento público tem, no que respeita à área
que ocupam no todo nacional, sido nulo (sobreiro) ou negativo (pinheiro bravo e
azinheira).
3.
Quem tem beneficiado com os
apoios públicos às florestas?
Os vários programas de
apoio às florestas em Portugal têm funcionado como “balões de oxigénio” a um
vasto conjunto de empresas de prestação de serviços à produção florestal
nacional. Ocorria em maior escala nos primeiros Quadros Comunitários de Apoio,
onde as taxas de apoio eram maiores, decresceu nos mais recentes com a
diminuição dessas taxas. Seria, todavia, preferível que a atividade destas
empresas tivesse um contínuo assegurado, não apenas nos curtos intervalos de subsidiação
à atividade silvícola, mas também e sobretudo, pelo rendimento gerado ao nível
desta.
A concentração ao nível da
procura tem condicionado o rendimento silvícola, estando por demonstrar se,
direta ou indiretamente, não tem beneficiado dos apoios públicos destinados à
oferta, mas dos quais esta última não tem estatisticamente usufruído.
Um beneficiário evidente
dos apoios públicos às florestas em sido a designada “indústria do fogo”. Um
investimento subsidiado por capitais públicos que tenha um rendimento
condicionado pelos mercados é um foco de risco assegurado. Há quem viva desse
risco!
4.
Quais os riscos associados aos
apoios públicos às florestas?
O financiamento público à
atividade florestal, numa situação de rendimento condicionado pelos mercados,
tem tido impacto ao nível da gestão florestal. A contração dos custos na
gestão, fruto da baixa expetativa de rendimento, tem levado à opção por modelos
minimalistas e de abandono.
A mais fácil proliferação
de pragas e de doenças, bem como o maior risco da propagação dos incêndios, são
consequências de uma inadequada gestão florestal, seja no plano técnico, mas
decorrente sobretudo do comercial.
Pelo histórico, torna-se
claro que financiamento público, numa situação de rendimento silvícola
condicionado, tem induzido um elevado risco social, ambiental e económico.
5.
Quais as medidas para garantir
retorno dos apoios públicos às florestas?
Desde logo, tendo ficado
claro que o futuro da atividade silvícola depende do rendimento e não de
subsidiação, embora esta tenha o seu papel em determinados contextos, o
funcionamento dos mercados deve suscitar o acompanhamento e a intervenção das
autoridades. Esta intervenção é suscitada, quanto mais não seja, pelos impactos
negativos que um deficiente funcionamento dos mercados florestais aporta à
Sociedade, concretamente no que respeita ao risco de incêndios rurais.
A atribuição de apoios
públicos deve ser sempre condicionada às garantias, que os seus beneficiários
possam assegurar, de retorno à Sociedade desta sua aplicação financeira, seja
no plano económico, seja no ambiental e no social. Aqui, são mais suscetíveis
de conferir tais garantias os investimentos que tenham associado o acompanhamento
técnico e comercial, em ligação estreita com a investigação, seja por exemplo no
âmbito das Zonas de Intervenção Florestal ou seus desenvolvimentos, seja no
âmbito de fundos de investimento imobiliário florestais ou da criação e reforço
da capacidade de autoabastecimento industrial.
A qualificação dos agentes
envolvidos é um outro fator a considerar na consolidação de garantias de
retorno à Sociedade, pelo seu empenho na promoção ao investimento florestal. A
formação profissional e a acreditação dos agentes são aspetos essenciais.
Finalmente, a avaliação
das candidaturas aos apoios públicos deverá ocorrer, não apenas pela atual
apresentação de propostas de investimento, mas pela análise de verdadeiros
projetos de investimento, associando à componente técnica a financeira. Esta
última tem sido preterida na atribuição de apoios públicos às florestas, se o
fosse muitos riscos seriam evitados.
O financiamento público à floresta privada em Portugal é
fundamental para o combate à desflorestação, ao despovoamento, à desertificação
e aos efeitos nefastos das alterações climáticas. Por isso, urge alterar o
modelo de atribuição destes apoios, bem como intervir no funcionamento dos
mercados de bens e serviços de base florestal.
Não há subsídios que compensem negócios sem rendimento. Sem
rendimento não há florestas privadas sustentáveis. Hoje não o são.
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