terça-feira, 5 de setembro de 2017

Ministério da Economia patrocina negócios necrófagos nas florestas

O licenciamento, pelo Ministério da Economia, de múltiplas unidades de produção de pellets e de utilização de biomassa florestal dita residual, compromete a sustentabilidade das florestas em Portugal, mais ainda, num país em evidente situação de incontrolada desflorestação.


Entre a disponibilidade potencial de biomassa florestal residual, avaliada em 2 milhões de toneladas por ano, e a capacidade licenciada, quer em unidades de produção de pellets energéticas, quer em centrais de produção de energia a partir de biomassa florestal dita residual, existe um diferencial negativo superior a 1 milhão de toneladas anuais.

Só na presente legislatura, o Ministério da Economia, em centrais a biomassa florestal dita residual, licenciou uma potencia de cerca de 170.000 quilowatts, o equivalente a uma necessidade anual em biomassa de cerca de 2 milhões de toneladas. Apenas na área industrial de Vila Nova de Famalicão, o Ministério da Economia licenciou, entre uma unidade de produção de pellets e duas centrais a biomassa florestal, o equivalente a uma necessidade anual de cerca de meio milhão de toneladas de biomassa florestal.

Na produção de pellets, dita a partir de resíduos florestais (sobrantes), está instalada em Portugal uma capacidade que exige uma disponibilidade anual superior a 1 milhão de toneladas de biomassa florestal. Não será, com certeza, utilizada apenas biomassa residual.

Um tão evidente diferencial, desfavorável à florestal, bem como a crescente necessidade de matéria prima por grupos industriais desprovidos de áreas florestais próprias e das quais se desconhecem planos de (re)florestação inerentes à sua atividade, só pode suscitar fortíssimas dúvidas quanto ao seu contributo para o processo de desflorestação em curso no país.

Tendo por base o alegado papel das indústrias de pellets e da biomassa para energia na mitigação dos incêndios em Portugal, entretanto desmontado, surge a dúvida contrária: Qual o seu papel no aproveitamento deste flagelo nacional? A recente política de preços face à madeira queimada reforça, e muito, esta dúvida.

Sendo os licenciamentos destas unidades objeto de avaliação de impacto ambiental, o facto é que esta avaliação ocorre sobre o local de implantação destas unidades e não sobre os impactos ao nível da matéria prima utilizada e sobre as regiões da sua proveniência.

Mais, existem fortes dúvidas sobre a “construção” dos projetos destas unidades, concretamente no que respeita à disponibilidade e ao abastecimento de matéria prima. Quanto dos custos inerentes a este abastecimento resultam em encargos adicionais para o Estado? Para o controlo da carga combustível nas florestas existem outras variantes.

O facto é que Portugal evidencia uma desflorestação média anual equivalente à superfície da sua capital. A nível mundial, na última década registou uma perda relativa de cobertura arbórea das mais elevadas a nível mundial.


Exige-se assim que o Ministério da Economia sujeite a avaliação independente o impacto dos licenciamentos que concedeu a estas indústrias.


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