Em Portugal, 80% da área florestal pertence a centenas de milhares
de famílias e 12% a comunidades rurais (baldios). Enquanto a oferta de produtos
florestais está demasiado pulverizada, a procura está hoje mais concentrada do
que nunca. Perante o desequilíbrio entre a oferta e a procura o Estado prima
pela ausência. As consequências estão à vista.
Desde
a sua constituição, em agosto de 2011, a Acréscimo – Associação de Promoção ao
Investimento Florestal tem defendido a necessidade de intervenção direta do Estado
no funcionamento dos mercados de produtos de base florestal, sobretudo da
madeira, seja para serrar ou triturar, e da cortiça. Neste sentido, a associação
defende a reconstituição de uma entidade de regulação, como funcionou até 1989 o
Instituto dos Produtos Florestais
(IPF), criado em 1972.
A
forte concentração ao nível da procura condiciona decisivamente a formação de
preços à oferta. A falta de expetativas de rendimento ao nível da oferta tem promovido
uma gestão de abandono. Esta última, tem impacto no acréscimo de riscos associados
à atividade silvícola, seja ao nível dos incêndios, mas, menos visível, também
ao nível da proliferação sem controlo de pragas e de doenças.
Em
2016, a Acréscimo chegou a apresentar, ao então Secretário de Estado das
Florestas e do Desenvolvimento Rural, uma proposta de financiamento da entidade
reguladora, sem acréscimo de custos para o Orçamento do Estado (a par do
definido em 1986).
O
impacto da formação do rendimento para uma gestão ativa, desejavelmente
profissional, decisiva para a mitigação dos riscos, tem sido negligenciado pelos
vários governos. Tal facto, determina um favorecimento, mesmo que indireto, à
procura, com consequências quer para a oferta, quer para toda a Sociedade, tal
como se tem assistido a cada período estival.
A par
da responsabilização da oferta, com medidas que enquadrem um conjunto de
obrigações para os proprietários florestais, o governo tem de atuar sobre os
mercados e, desta forma, sobre o comportamento da procura. A intervenção do
Estado para a redução do risco crescente com os incêndios tem várias frentes, a
dos mercados é decisiva.
No
caso concreto da fileira do eucalipto, a situação é muito problemática. Esta
fileira está condicionada a um duopólio ao nível da procura, bem como a uma
crescente oferta de risco, associada ao minifúndio. Mais do que a espécie em
si, o modo de funcionamento do mercado da rolaria de eucalipto para trituração tem
tido um forte contributo para o crescente impacto das plantações desta espécie
na área ardida total e em povoamentos florestais. Se em 1996, as plantações de
eucalipto representavam 3% e 13%, respetivamente, na área ardida total e na área
ardida em povoamentos florestais, em 2016 tais percentagens evoluíram para 17 e
45%. As plantações ocupam hoje 28% da área florestal nacional (Nações Unidas,
2015).
A ausência
de uma análise financeira e comercial no licenciamento de investimentos com espécies
de rápido crescimento, com um caráter marcadamente mercantil, tem sido também
uma das críticas manifestada por esta associação.
A
inexistência de um serviço nacional de extensão florestal, como havia sido
criado nos anos 70 do século passado, é um outro alvo de críticas da Acréscimo.
Igualmente, para o serviço de extensão, a associação apresentou ao Governo uma
proposta para o financiamento do mesmo, sem encargos adicionais para o
Orçamento do Estado
Assim, se o Governo pretende efetivamente
implementar uma agenda para a redução do risco de incêndios nas florestas em
Portugal, a Acréscimo sugere uma eficaz intervenção nos mercados e no apoio a
investimentos de risco controlado, através:
· Da criação
de uma entidade reguladora, ou reativação do Instituto dos Produtos Florestais;
· Da
avaliação financeira e comercial nos processos de licenciamento de investimentos
com espécies de rápido crescimento;
· Da
criação ou reativação de um serviço nacional de extensão florestal.
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