Entre os múltiplos motivos, sejam de
natureza económica, social ou ambiental, existem três que, não sendo
habitualmente referenciados, justificam a necessidade de travar novas
arborizações e de condicionar as rearborizações com eucalipto em Portugal.
O primeiro desses motivos assenta na
contração da área de eucaliptal na posse das empresas da indústria papeleira. A
mesma é quantificada, em estatísticas da própria indústria papeleira, na última
década, em mais de 30 mil hectares de plantações com esta espécie exótica. Essa
área corresponde a mais do que três vezes a área da capital do país. Apesar
desta contração, a área total de eucaliptal no país continuou em forte expansão.
Esta contração, por parte da indústria
papeleira, evidencia um desinvestimento na área de risco do seu negócio
silvo-industrial. Não é socialmente aceitável que, quem aufere os melhores
reconhecimentos institucionais e mediáticos na gestão das plantações de eucalipto,
designadamente quanto à contenção de riscos, seja nos incêndios, seja nas
pragas e nas doenças, possa transferir esse reconhecimento para uma oferta externa,
reconhecidamente de risco, à qual ainda condiciona unilateralmente os
rendimentos decorrentes da exploração comercial destas plantações lenhosas.
O segundo motivo assenta no facto de,
nas últimas décadas, ter ocorrido uma elevada expansão da área desta espécie exótica,
sem que a mesma tenha sido correspondida com um aumento de produtividade. Para
além de contrariar o espírito do disposto na Lei de Bases da Politica Florestal
(Lei n.º 33/96, de 17 de agosto), este tipo de desenvolvimento evidencia uma
opção pela expansão de uma oferta de risco, em quantidade de área, independentemente
da sua qualidade (e dos riscos associados).
Desde a aprovação da Lei de Bases, há
20 anos atrás, a área de plantações com esta espécie exótica expandiu em cerca
de 95 mil hectares. Todavia, a sua produtividade média por hectare manteve-se
em cerca de 6 metros cúbicos por hectare e ano. Este último valor, apurado pelo
Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), é inadmissivelmente
baixo, mais ainda quando neste período de tempo muito foi investido em
melhoramento genético com esta espécie, incluindo em clonagem.
O terceiro motivo, relacionado com os
anteriores, advém do facto de, com base em dados também apurados pelo ICNF, na última
década, da área ardida registada em povoamentos florestais 43% esteve associada
a plantações com eucalipto. Ou seja, pelo tipo de expansão associada a esta espécie
lenhosa, a mesma tornou-se no principal foco de risco associado aos espaços
florestais nacionais.
Exemplo anterior, também suportado numa
oferta excessivamente pulverizada e numa procura que autorizadamente se excedeu,
nas décadas mais recentes, em concentração, prova que esta estratégia de investimento
silvo-industrial não aporta um retorno aceitável pela Sociedade, nem no plano ambiental,
nem no social e nem, tanto pouco, no económico.
Urge assim que o Governo cumpra o que
consta no seu Programa, aprovado no Parlamento, com a “revogação da lei que
liberaliza a plantação de eucalipto”, impedindo novas arborizações e
condicionando o licenciamento das rearborizações a rigorosas análises
financeiras e de risco.
Sem comentários:
Enviar um comentário