sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Urge travar a expansão do eucalipto em Portugal

Entre os múltiplos motivos, sejam de natureza económica, social ou ambiental, existem três que, não sendo habitualmente referenciados, justificam a necessidade de travar novas arborizações e de condicionar as rearborizações com eucalipto em Portugal.

O primeiro desses motivos assenta na contração da área de eucaliptal na posse das empresas da indústria papeleira. A mesma é quantificada, em estatísticas da própria indústria papeleira, na última década, em mais de 30 mil hectares de plantações com esta espécie exótica. Essa área corresponde a mais do que três vezes a área da capital do país. Apesar desta contração, a área total de eucaliptal no país continuou em forte expansão.

Esta contração, por parte da indústria papeleira, evidencia um desinvestimento na área de risco do seu negócio silvo-industrial. Não é socialmente aceitável que, quem aufere os melhores reconhecimentos institucionais e mediáticos na gestão das plantações de eucalipto, designadamente quanto à contenção de riscos, seja nos incêndios, seja nas pragas e nas doenças, possa transferir esse reconhecimento para uma oferta externa, reconhecidamente de risco, à qual ainda condiciona unilateralmente os rendimentos decorrentes da exploração comercial destas plantações lenhosas.

O segundo motivo assenta no facto de, nas últimas décadas, ter ocorrido uma elevada expansão da área desta espécie exótica, sem que a mesma tenha sido correspondida com um aumento de produtividade. Para além de contrariar o espírito do disposto na Lei de Bases da Politica Florestal (Lei n.º 33/96, de 17 de agosto), este tipo de desenvolvimento evidencia uma opção pela expansão de uma oferta de risco, em quantidade de área, independentemente da sua qualidade (e dos riscos associados).

Desde a aprovação da Lei de Bases, há 20 anos atrás, a área de plantações com esta espécie exótica expandiu em cerca de 95 mil hectares. Todavia, a sua produtividade média por hectare manteve-se em cerca de 6 metros cúbicos por hectare e ano. Este último valor, apurado pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), é inadmissivelmente baixo, mais ainda quando neste período de tempo muito foi investido em melhoramento genético com esta espécie, incluindo em clonagem.

O terceiro motivo, relacionado com os anteriores, advém do facto de, com base em dados também apurados pelo ICNF, na última década, da área ardida registada em povoamentos florestais 43% esteve associada a plantações com eucalipto. Ou seja, pelo tipo de expansão associada a esta espécie lenhosa, a mesma tornou-se no principal foco de risco associado aos espaços florestais nacionais.


Exemplo anterior, também suportado numa oferta excessivamente pulverizada e numa procura que autorizadamente se excedeu, nas décadas mais recentes, em concentração, prova que esta estratégia de investimento silvo-industrial não aporta um retorno aceitável pela Sociedade, nem no plano ambiental, nem no social e nem, tanto pouco, no económico.

Urge assim que o Governo cumpra o que consta no seu Programa, aprovado no Parlamento, com a “revogação da lei que liberaliza a plantação de eucalipto”, impedindo novas arborizações e condicionando o licenciamento das rearborizações a rigorosas análises financeiras e de risco.


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