Portugal possui a 4.ª maior área de plantações de eucalipto do
mundo, ao dispor de menos de meia dúzia de unidades industriais de produção de
pasta celulósica.
As considerações de discriminação ao eucalipto
em Portugal, com base no compromisso do Governo na revogação do “diploma da
Mitrena” (Decreto-lei n.º 96/2013, de 19 de julho, que instituiu o regime
jurídico das ações de arborização e rearborização). alegadas pela indústria
papeleira são, a vários títulos, vergonhosas.
Vergonhoso é o facto desta
fileira ser “orientada” em regime de oligopólio, que condiciona o rendimento
destas plantações, esmagadoramente na posse de famílias, ao ponto de cerca de
80% das mesmas estarem votadas a uma gestão deficiente ou de abandono.
Vergonhoso é ainda o facto
de as empresas industriais estarem a abandonar a sua presença na área de risco
do negócio, quando nos últimos anos reduziram as suas áreas próprias em mais de
30.000 hectares de eucaliptal. Desta forma, optaram por transferir os riscos da
gestão destas plantações a quem condicionam rendimentos, reduziram a sua
capacidade de autoabastecimento e tem a descarada ousadia de invocar agora a
necessidade de importação de matéria prima lenhosa ou uma maior expansão do
eucaliptal privado em Portugal.
Envergonha ainda o facto
de, em consequência do atual condicionamento do mercado da rolaria de
eucalipto, a gestão a que estas plantações está votada ocasiona elevados riscos
sociais, económicos e ambientais. Entre 2000 e 2011 arderam em Portugal 1.712.114
hectares, 877.506 hectares ocorreram em povoamentos florestais. Segundo dados
oficiais, as plantações de eucalipto representaram 43% da área ardida em
povoamentos florestais, bem longe do ocorrido em povoamentos de espécies
autóctones, incluindo o pinheiro bravo.
Por fim, lamenta-se o
facto das várias governações terem permitido a expansão da área das plantações
de eucalipto (mais de 95.000 hectares só entre 1995 e 2010), sem que a mesma tenha
sido acompanhada pelo aumento da produtividade. Ou seja, a conivência entre
governos e a indústria papeleira foi fundamental para o aumento de uma oferta
de risco, que empobrece as populações rurais, delapida recursos naturais e
deprecia o Território.
Os responsáveis da
indústria papeleira, face ao egoísmo que os motiva, tem de ter a perceção que o
“negócio” não é já hoje estabelecido entre duas partes: a oferta e a procura
que a condiciona. Este “negócio”, associado hoje as plantações de eucalipto,
não é há muito desenvolvido apenas entre agentes económicos que produzem
rolaria de eucalipto e quem lhes compra com preço unilateralmente estabelecido.
Pelos impactos negativos a
que está associado, o “negócio” do eucalipto é hoje intervencionado por múltiplas
partes, sobretudo pelos cidadãos vítimas da devastação provocada pelos
incêndios, das consequências da luta biológica associada às pragas e doenças do
eucaliptal e dos resíduos associados a produção de pasta celulósica.
Portugal está em desflorestação, perdeu mais de 250 mil
hectares de floresta em 25 anos, mas está longe de poder apostar em plantações de elevado
risco.
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