A gestão da problemática dos incêndios
florestais em Portugal, no que respeita concretamente à sua propagação, já que
as ocorrências aportam questões de outra índole, assemelha-se à gestão de uma equipa
de futebol. Contudo, nesta equipa:
·
Os
avançados são míopes,
a estratégia florestal assenta nas árvores e não nas pessoas que detêm os
terrenos que lhes servem de habitat (mais de 90% da área florestal portuguesa está
inserida em propriedade privada);
·
O
meio campo é coxo,
assentando a estratégia na gestão das árvores, descora a necessidade de garantir
a rentabilidade da atividade silvícola para assegurar o financiamento dessa
gestão (não há acompanhamento dos mercados, onde a atividade silvícola se
encontra em declínio progressivo e a indústria exporta valor sem ter em conta a
depreciação dos recursos naturais, situação que contraria os princípios básicos de um negócio da Economia Verde); e,
·
A
defesa está desnutrida,
as ações de vigilância e de prevenção assentam exclusivamente no esforço dos
contribuintes e não na economia dos setores silvo-industriais, ficando assim à
mercê das disponibilidades do Orçamento de Estado, disponibilidades essas, hoje
e no futuro próximo, bastante condicionadas.
Logo, parte demasiado significativa para
o êxito da equipa assenta no guarda-redes – Bombeiros e Proteção Civil.
Todavia, como no futebol, sem um esforço conjugado de toda a equipa, o último
reduto, por mais eficiente que possa ser, tem sempre uma forte probabilidade de
não conseguir, só por si, ter êxito – o fogo é um avançado exímio na
concretização dos seus objetivos.
Na real dimensão do problema, o
Ministério da Agricultura (agora também do Ambiente e do Ordenamento do
Território) – responsável pelos avançados, pelo meio campo e pela defesa da
equipa - tem publicamente passado entre as labaredas, facto que lhe tem
permitido continuar a lançar as suas incapacidades e incompetências políticas
(capacitação técnica existe) para os braços de outros, esses outros que,
todavia não têm as competências necessárias para intervenção na origem do
problema que têm de enfrentar em cada período estival (cada vez mais alargado).
Pior, da Agricultura são lançadas
ainda mais achas para a fogueira, com propostas irresponsáveis de fomento das
arborizações e rearborizações, sem que estejam asseguradas as mínimas condições
que permitam a rentabilidade desses investimentos, ou seja, que esteja
garantida a administração desses arvoredos (gestão florestal) ao longo de todo
o ciclo silvícola. Condições essas que passam pelo reforço da pesquisa
(desejavelmente desenvolvida por Institutos Públicos e Universidades), pela
extensão florestal ou rural (preferencialmente de cariz privado – através de organizações
associativas e empresas com capacidade técnica, com supervisão pública) e pelo
imperioso acompanhamento dos mercados e regulação dos interesses que nestes
marcam presença – já no tempo da “campanha do trigo” se sabia disto.
Com a atual estratégia, os
responsáveis políticos na Agricultura, no Ambiente e no Ordenamento do
Território, para além de continuarem a sacrificar os bombeiros, as populações
rurais e o desenvolvimento rural, sacrificarão mais os contribuintes e toda a
Sociedade, com avultadas perdas financeiras (1.000 M€/ano) e desmesuradas
emissões de dióxido de carbono para a atmosfera (que podem ter atingido os 20
milhões de toneladas de CO2 eq. só na última década).
Infelizmente, os atuais problemas de Portugal
não se circunscrevem apenas à redução da austeridade e à necessidade de
crescimento económico, englobam também uma maior responsabilidade e competência
política.
(texto
redigido de acordo com o AO)
Sem comentários:
Enviar um comentário