A Estratégia
Nacional para as Florestas (ENF), aprovada pela Resolução do Conselho de
Ministros nº 114/2006, de 17 de agosto, encontra-se em processo de avaliação.
Para o efeito, o Ministério da Agricultura (MAMAOT) contratou em 2012 um Estudo
de Avaliação da Concretização da ENF.
Na
apreciação genérica da Estratégia e do Estudo de Avaliação são notórias várias
inconsistências diagnosticadas pela Acréscimo:
1) Inconsistência política:
Na ENF e na sua
avaliação, não é evidente qualquer esforço de aproximação entre os ciclos eleitorais
e os ciclos florestais. Desenvolvendo-se os segundos em períodos de
várias décadas, importa que as mudanças políticas ocorridas, previsivelmente a
cada meia década, permitam uma segurança e consistência estratégica no que
respeita às opções políticas com incidência nas florestas e na atividade
florestal, esta última assente quase exclusivamente em centenas de milhares de
entidades privadas. Desta forma, defende-se que um plano estratégico sobre as
florestas pressuponha um Acordo de Regime, preferencialmente desenvolvido ao
nível do Poder Legislativo, onde o histórico de consensos sobre estas matérias
tem sido profícuo. Vincular a ENF apenas ao Poder Executivo é insuficiente para
a aproximação entre estes diferentes ciclos temporais. A questão é
de tal forma pertinente, porquanto um responsável de um grupo empresarial da
indústria florestal veio a público afirmar que o ciclo eleitoral é ”o maior
inimigo” da floresta em Portugal (fonte: Lusa, 20 de novembro de 2012). Todavia, essa aproximação entre ciclos foi possível consumar em países
com maior desenvolvimento sustentável das suas florestas, coincidindo com
regimes democráticos.
2) Inconsistência estrutural:
Na ENF,
persistindo na sua avaliação, é notória a confusão entre causa,
sinteticamente ignorada, efeito e consequência. A documentação
evidencia um enfoque sistemático nos riscos (a consequência), reconhecendo que
a gestão florestal (e o efeito é a sua ausência) é aqui determinante, ou seja, a
administração ativa das matas segundo critérios comerciais e princípios
técnicos, respeitando a sustentabilidade dos ecossistemas. Ignora contudo o
sustento financeiro para essa mesma gestão ativa e sustentável (no caso, a
causa é a falta de expectativa de negócio silvícola). Ou melhor, revela por
diversas vezes fazer assentar esse esforço financeiro nos contribuintes, nos
fundos públicos, ignorando as opções de mercado.
3) Inconsistência estratégica:
A Estratégia e o Estudo de Avaliação mencionam, mas desprezam os seus
efeitos: as superfícies florestais portuguesas são detidas por centenas de
milhares de proprietários privados. Portugal assume neste domínio
posição impar a nível mundial. Ora a visão tecnocrática visível na Estratégia e
no Estudo de Avaliação remetem estes atores para um plano secundário. Todavia,
a capacidade profissional e empresarial destes agentes é e será sempre
determinante para qualquer Planeamento Estratégico. Os indicadores inscritos e as sugestões de melhoria são manifestamente
insuficientes para o envolvimento e incentivo destes agentes e assim inverter a
queda do peso da silvicultura e do setor florestal na economia rural em
particular e na nacional em geral.
4) Inconsistência financeira:
A Estratégia e o Estudo de Avaliação não incorporam um plano de
investimento, mesmo que para um período de tempo próximo, p.e. 2014/2020, nem o
correspondente plano de financiamento. Muito embora a ENF tenha sido elaborada
antes da crise internacional de 2008, a sua avaliação já deveria comportar a informação
necessária para apoio aos decisores sobre os encargos previsionais inerentes à
prossecução das medidas constantes na Estratégia, bem como as fontes previsionais
de financiamento advogado. Esta inconsistência pressupõe um elevado risco de
derrapagem do realizável face ao previsto, situação que pode descredibilizar a
ENF.
No domínio do planeamento florestal, a Acréscimo defende a necessidade de
desenvolver um instrumento simples mas consistente, quer ao nível político,
quer nos planos técnico, económico, social e ambiental. Plano esse que atue
sobre as causas da sobre-exploração e do subaproveitamento dos recursos
florestais nacionais, que permita gerar riqueza, em especial junto das
populações rurais, e valor para a indústria e para a Economia, assente
preferencialmente mais em regras de mercado e menos subsídio-dependente.
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