terça-feira, 13 de novembro de 2012

Extrativismo ou Desenvolvimento Rural.


As estratégias de algumas fileiras silvo-industriais em Portugal aparentam ter características terceiro-mundistas, de índole meramente extrativista, dissociadas do crescimento sustentável da atividade silvícola, que lhes garante o suporte de abastecimento de matéria-prima nacional, e bem assim desenquadradas de políticas de Desenvolvimento Rural.

Tais estratégias industriais evidenciam estar assentes num relacionamento de egoísmo face aos demais agentes da cadeia silvo-industrial, em particular da produção florestal, o que se pode constatar pela análise dos mais recentes dados específicos publicados pelo Instituto Nacional de Estatística.

Assim, segundo o INE, a par de um “saldo fortemente positivo” da balança comercial portuguesa de produtos industriais de base florestal entre 2006 e 2010, o período de 2000 a 2010 registou um “declínio progressivo da atividade silvícola”, com uma taxa de variação média anual de -2,0% em volume e de -2,3% em valor, muito embora os custos intermédios tenham registado, nesse mesmo período, um acréscimo de 7,1%. A esta situação é imputável quer o aumento do abandono na gestão dos espaços florestais, quer o acréscimo na propagação dos fogos em povoamentos, como registado em 2012, apesar da diminuição das ocorrências.

A estes factos aparecem associadas evidências de subjugação do poder político ao poder económico, abstraindo-se a tutela política da sua função de regulação dos diferentes interesses económicos, ambientais e sociais em presença.

Como exemplo destas evidências aparece o recente caso da proposta governamental de massificação da cultura do eucalipto. O aumento da área de eucaliptal, em teoria a cultura financeiramente mais atrativa para os proprietários florestais tem sido acompanhada por uma diminuição do rendimento empresarial líquido e do peso da silvicultura na economia nacional. Apesar da duplicação da área de eucaliptal em Portugal nos últimos 30 anos, ocupando o país o 5.º lugar a nível mundial nas plantações com estas espécies, neste mesmo período, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura (produção e exploração florestal), face ao VAB nacional, registou um decréscimo de 1,2% em 1990 para 0,4% em 2010.


Um outro exemplo, ocorre na fileira energética, concretamente na produção de pellets energéticas, onde as garantias de sustentabilidade de recursos naturais está longe de ser comprovada. Portugal exporta mais de 90% das mais de 900 mil toneladas de pellets que produz, mas durante quanto tempo o conseguirá fazer? 10 anos? 15 anos? Quais as consequências desta produção ao nível da delapidação dos recursos naturais, que embora renováveis carecem de um esforço para uma renovação consequente, assente numa adequada gestão cultural. Neste contexto, afigura-se fundamental a participação desta industria na aquisição e/ou na gestão de área florestal para garantia de autoabastecimento, que sirva simultaneamente para o desenvolvimento e a consolidação das melhores práticas culturais associadas a produções dedicadas.

A indústria florestal portuguesa tem assim, apesar do seu forte impacto exportador, de comprovar ser geradora de resultados líquidos positivos para a Sociedade, não só no plano económico, mas igualmente nos planos ambiental e social, facto que está longe de se poder vislumbrar atualmente. Para o efeito, deve começar por ajustar as suas relações com a produção florestal nacional, conferindo-lhes maior grau de altruísmo, hoje residual, com o intuito de controlar o abandono da gestão dos solos, que hoje representam já cerca de 20% da área continental portuguesa.

Exorta-se assim as principais empresas da indústria pesada de transformação de base florestal a comunicarem à Sociedade as suas estratégias de Responsabilidade Social, não apenas as que envolvam os locais onde têm instaladas as suas unidades fabris, mas fundamentalmente junto das populações rurais dos concelhos nos quais extraem recursos naturais, matérias-primas para a sua atividade industrial

Afinal de contas, quem não deve, não teme.

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