As
estratégias de algumas fileiras silvo-industriais em Portugal aparentam ter características
terceiro-mundistas, de índole meramente extrativista, dissociadas do
crescimento sustentável da atividade silvícola, que lhes garante o suporte de abastecimento
de matéria-prima nacional, e bem assim desenquadradas de políticas de
Desenvolvimento Rural.
Tais
estratégias industriais evidenciam estar assentes num relacionamento de egoísmo
face aos demais agentes da cadeia silvo-industrial, em particular da produção
florestal, o que se pode constatar pela análise dos mais recentes dados
específicos publicados pelo Instituto Nacional de Estatística.
Assim, segundo
o INE, a par de um “saldo fortemente positivo” da balança comercial portuguesa de
produtos industriais de base florestal entre 2006 e 2010, o período de 2000 a
2010 registou um “declínio progressivo da atividade silvícola”, com uma taxa de
variação média anual de -2,0% em volume e de -2,3% em valor, muito embora os
custos intermédios tenham registado, nesse mesmo período, um acréscimo de 7,1%.
A esta situação é imputável quer o aumento do abandono na gestão dos espaços
florestais, quer o acréscimo na propagação dos fogos em povoamentos, como
registado em 2012, apesar da diminuição das ocorrências.
A estes
factos aparecem associadas evidências de subjugação do poder político ao poder
económico, abstraindo-se a tutela política da sua função de regulação dos
diferentes interesses económicos, ambientais e sociais em presença.
Como exemplo
destas evidências aparece o recente caso da proposta governamental de
massificação da cultura do eucalipto. O aumento da área de eucaliptal, em
teoria a cultura financeiramente mais atrativa para os proprietários florestais
tem sido acompanhada por uma diminuição do rendimento empresarial líquido e do
peso da silvicultura na economia nacional. Apesar da duplicação da área de
eucaliptal em Portugal nos últimos 30 anos, ocupando o país o 5.º lugar a nível
mundial nas plantações com estas espécies, neste mesmo período, o Valor
Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura (produção e exploração florestal),
face ao VAB nacional, registou um decréscimo de 1,2% em 1990 para 0,4% em 2010.
A
indústria florestal portuguesa tem assim, apesar do seu forte impacto
exportador, de comprovar ser geradora de resultados líquidos positivos para a
Sociedade, não só no plano económico, mas igualmente nos planos ambiental e
social, facto que está longe de se poder vislumbrar atualmente. Para o efeito,
deve começar por ajustar as suas relações com a produção florestal nacional,
conferindo-lhes maior grau de altruísmo, hoje residual, com o intuito de
controlar o abandono da gestão dos solos, que hoje representam já cerca de 20%
da área continental portuguesa.
Exorta-se
assim as principais empresas da indústria pesada de transformação de base
florestal a comunicarem à Sociedade as suas estratégias de Responsabilidade
Social, não apenas as que envolvam os locais onde têm instaladas as suas
unidades fabris, mas fundamentalmente junto das populações rurais dos concelhos
nos quais extraem recursos naturais, matérias-primas para a sua atividade
industrial
Afinal de
contas, quem não deve, não teme.
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