Nem sempre os números publicamente avançados pelos responsáveis políticos
se adequam aos conceitos invocados. Como exemplo, registam-se as recentes
declarações proferidas pela ministra Assunção Cristas sobre o peso da floresta
no Produto Interno Bruto (PIB). Haverá nisto intenção de tapar o Sol com a
peneira ou será caso de má assessoria à governante?
Assim, de acordo com o glossário do Instituto Nacional de Estatística
(INE), o conceito de floresta está associado a terrenos
dedicados à atividade florestal, onde se incluem os povoamentos florestais,
áreas ardidas de povoamentos florestais, áreas a corte raso e outras áreas
arborizadas. Enquadrando o setor primário, este conceito não enquadra a indústria florestal, embora esta última
se possa associar à atividade silvícola quando abordada numa ótica de fileira,
setor florestal ou silvo-industrial.
Aqui chegados e de acordo com dados publicados em dezembro último pelo
Gabinete de Planeamento e Políticas do MAMAOT, tendo por base as Contas
Nacionais do INE, a floresta registou em 2010 um peso no PIB de apenas 0,5%. Já
as indústrias florestais registaram, nesse mesmo ano, um peso no PIB de 1,3%. No
conjunto da fileira florestal, o peso no PIB foi em 2010 de apenas 1,8%. Em
2000, o peso do setor florestal foi efetivamente de 3%, valor não mais
registado desde então.
Importância do complexo agroflorestal no PIB
Desta forma, a ministra Assunção Cristas, ao afirmar que a
floresta “vale três por cento” do PIB, ou foi mal informada, ou está a querer
iludir ao tentar tapar o Sol com a peneira.
Seria porventura mais útil à floresta e ao setor florestal se o
MAMAOT anuncia-se medidas de regulação dos mercados de produtos florestais, que
permitam uma maior rentabilidade da floresta, e assim uma ativa e sustentável
gestão da mesma, com impacto positivo na redução da propagação dos incêndios e
da proliferação de pragas e de doenças, riscos que hoje condicionam gravemente
qualquer iniciativa de investimento florestal.
Efetivamente,
a atividade silvícola registou na última década (2000/2010) um declínio
progressivo, isto apesar do saldo fortemente positivo evidenciado pela indústria
florestal no período 2006/2011.
A floresta
apresentou, entre 2000 e 2010, taxas de variação médias anuais negativas de 2,0%
em volume e de 2,3% em valor, o que refletiu o efeito da diminuição dos preços
no produtor.
Por sua
vez, o custo dos meios de produção teve nesse período um impacto bastante
negativo na atividade florestal (+7,1%), dado que a evolução dos preços da
produção não acompanhou o aumento daqueles, em particular o custo da energia.
Para além
dos discursos redondos, aguardam-se medidas concretas que permitam conferir
credibilidade ao investimento florestal, mais ainda quando o mesmo é
cofinanciado pelos contribuintes.
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