quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Os conceitos e os números: como tapar o Sol com a peneira.


Nem sempre os números publicamente avançados pelos responsáveis políticos se adequam aos conceitos invocados. Como exemplo, registam-se as recentes declarações proferidas pela ministra Assunção Cristas sobre o peso da floresta no Produto Interno Bruto (PIB). Haverá nisto intenção de tapar o Sol com a peneira ou será caso de má assessoria à governante?

Assim, de acordo com o glossário do Instituto Nacional de Estatística (INE), o conceito de floresta está associado a terrenos dedicados à atividade florestal, onde se incluem os povoamentos florestais, áreas ardidas de povoamentos florestais, áreas a corte raso e outras áreas arborizadas. Enquadrando o setor primário, este conceito não enquadra a indústria florestal, embora esta última se possa associar à atividade silvícola quando abordada numa ótica de fileira, setor florestal ou silvo-industrial.

Aqui chegados e de acordo com dados publicados em dezembro último pelo Gabinete de Planeamento e Políticas do MAMAOT, tendo por base as Contas Nacionais do INE, a floresta registou em 2010 um peso no PIB de apenas 0,5%. Já as indústrias florestais registaram, nesse mesmo ano, um peso no PIB de 1,3%. No conjunto da fileira florestal, o peso no PIB foi em 2010 de apenas 1,8%. Em 2000, o peso do setor florestal foi efetivamente de 3%, valor não mais registado desde então.

Importância do complexo agroflorestal no PIB

Desta forma, a ministra Assunção Cristas, ao afirmar que a floresta “vale três por cento” do PIB, ou foi mal informada, ou está a querer iludir ao tentar tapar o Sol com a peneira.

Seria porventura mais útil à floresta e ao setor florestal se o MAMAOT anuncia-se medidas de regulação dos mercados de produtos florestais, que permitam uma maior rentabilidade da floresta, e assim uma ativa e sustentável gestão da mesma, com impacto positivo na redução da propagação dos incêndios e da proliferação de pragas e de doenças, riscos que hoje condicionam gravemente qualquer iniciativa de investimento florestal.

Efetivamente, a atividade silvícola registou na última década (2000/2010) um declínio progressivo, isto apesar do saldo fortemente positivo evidenciado pela indústria florestal no período 2006/2011.

A floresta apresentou, entre 2000 e 2010, taxas de variação médias anuais negativas de 2,0% em volume e de 2,3% em valor, o que refletiu o efeito da diminuição dos preços no produtor.

Por sua vez, o custo dos meios de produção teve nesse período um impacto bastante negativo na atividade florestal (+7,1%), dado que a evolução dos preços da produção não acompanhou o aumento daqueles, em particular o custo da energia.

Para além dos discursos redondos, aguardam-se medidas concretas que permitam conferir credibilidade ao investimento florestal, mais ainda quando o mesmo é cofinanciado pelos contribuintes.

Referências da Imprensa:


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