Antes dos grandes incêndios de 2017 e
mesmo nesse ano, os pacotes legislativos sobre política florestal surgiam em
período pós estival. Nalguns casos, há quem os tenha apelidado de “gaffes” de
verão.
Nos dois recentes anos, os pacotes
legislativos sobre política florestal surgem em período pré-estival.
Na sequência
da sessão de ontem do Conselho de Ministros, veio a público mais um conjunto de
medidas legislativas direcionadas para as florestas e para a atividade
silvícola. A exemplo do ocorrido em 2019, o pacote de 2020 surge a dias de mais
uma época estival.
No pacote ontem
aprovado em Conselho de Ministros, há a destacar o Programa de Transformação da
Paisagem (PTP). O PTP, de acordo com o comunicado
do Governo, responde às orientações do Programa de Valorização do Interior
(PVI) e às diretrizes do Plano Nacional de Gestão Integrada de Fogos Rurais
(PNGIFR). Coloca-se a questão se o PVI responde às orientações do PNPOT, o Programa
Nacional de Políticas de Ordenamento do Território, recentemente revisto. Mas,
em matéria de florestas e paisagem, nestas novas medidas de política, onde se
irão situar os Planos Regionais de Ordenamento Florestal (PROF)? Afinal, não
são os PROF, que condicionam os Planos de Gestão Florestal (PGF), “referenciais
de uma nova economia dos territórios rurais ancorada numa floresta
multifuncional, biodiversa e resiliente”? É certo que os PROF foram revistos em
2017/2018, mas para potenciar plantações lenhosas mono-específicas pelo
território. Os PROF e os PGF têm enquadramento na Lei de Bases da Política
Florestal (LBPF). Qual a relação entre o PTP, o PNGIGR e do PVI com a LBPF? Á primeira
vista parece estarmos perante uma relação de “atrapalhamento”, de um ziguezaguear
legislativo entre períodos críticos de incêndios.
A
programas, planos, agências, missões e comissões (ontem foi anunciada mais uma
estrutura de missão, “para o Conhecimento do Interior”), tem havido um anúncio
sequencial de disponibilização de milhões para as florestas, de milhões de
euros. Os valores são muito variáveis, desde pacotes de 700 milhões, passando
pelos 500, até valores mais baixos, na ordem das dezenas. O que nunca se
questiona é qual o resultado, em termos de operações físicas, da aplicação
destes milhões. Se é que são aplicados. Há casos de taxas de 0%.
O facto,
constatado em dados do Sistema
Europeu de Informação Florestal (FISE, na sigla em inglês), é que Portugal
tem perdido sucessivamente coberto florestal. Entre 2012 e 2018 essa perda foi
na ordem dos 2,2%. Alargado o período, entre 2000 e 2018, a perda de coberto
florestal foi de 7,9%. De longe, a maior perda de coberto florestal registada
na União Europeia.
Entre
programas, planos, missões, comissões, anúncios de milhões, de muitos milhões
de euros, o facto é que Portugal perde coberto florestal a uma taxa que
compromete o combate à perda de biodiversidade, ao despovoamento e à
desertificação, às alterações climáticas. Com tantos pacotes, num país de
floresta privada falta o essencial.
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