Supostas garantias a serem reconhecidas
pelos consumidores que acabam por ser suportadas pelos contribuintes
A designada
certificação florestal é um negócio privado que assenta numa garantia transmitida
aos consumidores de que um determinado produto, que incorpora madeira ou
cortiça, é proveniente de uma floresta sob uma gestão sustentável. Em Portugal
acabam por ser os contribuintes a garantir a subsistência do negócio, num
processo de transmissão de responsabilidade do Estado, em matéria de compromissos
internacionais de gestão sustentável das florestas nacionais, para as entidades
que asseguram o negócio da certificação florestal.
A ACRÉSCIMO tem
alertado para a duvidosa credibilidade do negócio, entre outros, por dois
motivos:
1. Não é transparente o processo de monitorização, se
existente, da aplicação de resíduos industriais, concretamente das fábricas de
celulose, em áreas florestais certificadas. Em causa pode estar a Saúde
Pública, tendo em conta a elevada probabilidade de infiltração de resíduos nos
lençóis freáticos ou a escorrência para as linhas de água. Facilmente se
percebe, pelos factos ocorridos no rio Tejo, que esta indústria tem problemas
de autocontrolo na preservação de cursos de água. O Instituto Nacional de
Investigação Agrária e Veterinária não dispõe de estudos publicados sobre a
aplicação destes resíduos em culturas florestais (habitualmente a ocupar encostas
de vales). Ficamos assim restritos aos resultados da investigação privada ou a
estudos financiados pela indústria de celulose.
2. Igualmente, não é transparente o processo de certificação
pré-corte raso. Ou seja, não existe um período de nojo entre a obtenção de um
certificado e o abate de arvoredo, com mais valias no preço decorrentes da
certificação. A certificação é atribuída antes de corte no pressuposto de que
os seus princípios serão assegurados após a venda do arvoredo. Serão, ou o
processo repete-se previamente a novo corte (10-12 anos após)?
Nos dois casos, a
situação de falta de transparência interessa à indústria da celulose, destacado
cliente da certificação florestal. Será por acaso que a entidade que assegura
em Portugal a certificação por um dos dois sistemas em operação está sediada no
andar superior à sede da associação da indústria papeleira? Já no organismo que
assegura a presença no nosso país do outro sistema de certificação, sediado no edifício
sede da Confederação dos Agricultores de Portugal, a entidade que o preside
está em processo eleitoral interno, na lista de continuidade ao órgão diretivo consta
um ex-assessor do conselho de administração da The Navigator Company (ex-
PortucelSoporcel).
Todavia, o pior é o
facto de, perante a falta de reconhecimento dos proprietários florestais e dos
consumidores em geral por estes sistemas de certificação, os governos terem transferido
os encargos deste negócio para os contribuintes, seja os nacionais (via
componente do Orçamento do Estado), sejam os europeus (via componente dos fundos
europeus de apoio ao Desenvolvimento Rural). Quando um consumidor opta por um
produto com certificação florestal acaba por pagar duas vezes pela garantia que
lhe asseguram estar a dar.
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