Se
uma evidencia dendrofobia, a outra dissemina uma epidemia pelo território.
Parece
continuar assegurada a dependência do Executivo face à lenhicultura.
Se por um lado, o Governo quer fazer crer às
populações que meia dúzia de metros, face às árvores, as coloca em segurança,
tendo desenvolvido para o efeito uma campanha mediática de dendrofobia. Por
outro, o Executivo assegurou a expansão da área da lenhicultura de eucalipto,
pelo menos, até ao final da Legislatura. Nunca se produziram tantas plantas de
eucalipto em viveiro como atualmente: 40 milhões de plantas de eucalipto estão
certificadas para comercialização.
Com efeito, meia dúzia de metros de limpeza de
faixas de gestão de combustível nada representa face a manchas contínuas de
arvoredo facilmente inflamável. Se não for o fogo, será o fumo a causar
vítimas. Se as coberturas dos edifícios não estiverem adequadamente protegidas,
serão as projeções a provocar a sua destruição. Faixas de 10 a 100 metros de
deserto arbóreo não fazem frente a projeções que podem atingir vários
quilómetros.
Apesar da febre de dendrofobia que o Governo
fez instalar, prossegue a expansão da área de plantações de eucalipto, sem
fiscalização, nem rastreio de plantas saídas dos viveiros, nem avaliação
financeira das ações de arborização e de rearborização com esta espécie
inflamável e de rápido crescimento. Acresce que, uma vez instalada, se forem
quebradas as expetativas do negócio, o risco de abandono é elevado. Não é
qualquer outro investimento que suporta o custo de remoção de um eucaliptal. Em
situação de abandono, tende a gerar ciclos intermináveis de incêndios.
Apesar dos acontecimentos de 2016 e 2017, de
crescente envolvimento do eucaliptal na área ardida, o Governo continua a
permitir o aumento da capacidade da industria papeleira, em particular na
região Centro. Através do Orçamento continua a apoiar a expansão industrial.
Pior, o Executivo tem em apreciação a expansão
do eucaliptal em regadio e para o sector energético, na região de Lisboa e Vale
do Tejo. Apesar do aumento do risco de conflito mundial e das consequências na
distribuição de produtos alimentares, parece que o Governo estuda a
possibilidade de reconversão de solos agrícolas, de regadio, para a produção de
eucaliptal intensivo. Apesar da crescente contestação, na Europa, à reconversão
das centrais a carvão para a queima de madeira, num retrocesso a 1850, o
Governo antevê a possibilidade da reconversão da central a carvão do Pego. A
acontecer terá forte impacto na Reserva Agrícola Nacional e na disponibilidade
de água na bacia hidrográfica do Tejo.
Manchas
continuas de arvoredo facilmente inflamável em clima cada vez mais seco, mais
quente e mais ventoso, não fazem prever diminuição do risco de incêndios. Nada
mudou após 2017! Só se evidencia um foguetório de dendrofobia sem consequências
que não o imediatismo na perseguição a populações rurais envelhecidas. Presa
fácil!
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