Quando seria de esperar que fossem desenvolvidos mais
esforços com vista à descarbonização da economia, com redução de emissões de
dióxido de carbono, eis que a União Europeia protagoniza um grave retrocesso
civilizacional, com o regresso à queima de madeira para a obtenção de energia.
No Século XXI regressa ao XIX.
A aprovação ontem, pelo
Parlamento Europeu, da nova Diretiva Energias Renováveis para o período
2021-2030, sem restrições ao uso de biomassa florestal para a produção de
energia suscita grandes preocupações quanto à promoção da desflorestação, quer
no seio da União Europeia, quer em países terceiros.
Em 1850, a utilização
da madeira para bioenergia ajudou a conduzir à desflorestação na Europa
Ocidental, mesmo num momento em que os europeus consumiam relativamente pouca
energia. Embora o carvão tenha ajudado a salvar as florestas da Europa, a
solução não é voltar às florestas para a produção de energia. Pior ainda,
quando essa opção, ao contrario de outras formas de redução da carga de
combustíveis nas florestas, é concretizada com o esforço dos contribuintes e dos
consumidores de energia elétrica.
Mesmo a comprovação,
por iniciativas privadas, da gestão sustentável das florestas esta opção aporta
riscos consideráveis. Têm sido várias as falhas evidenciadas por tais
iniciativas.
O caso português:
A par de um processo já em curso de desflorestação, em
Portugal a capacidade industrial instalada para a produção de energia elétrica
a partir de biomassa florestal, que nos afirmam ser residual, é já muito
superior às disponibilidades estimadas. O próprio Parlamento nacional levantou
esta questão em 2013. Só o atual Governo fez aumentar essa capacidade
industrial, a funcionar em pleno em 2019, para uma necessidade de biomassa
florestal residual superior a um milhão de toneladas.
Teme-se que os incêndios florestais, pela disponibilização
de grande quantidade de madeira ardida, possam constituir um balão de oxigénio
para fazer face a procura industrial.
Não deixa de ser curioso constatar que o Governo
secundariza a aposta em centrais a biomassa florestal, de proximidade, para a
produção de energia não elétrica, mas prioriza as mega-centrais a suportar
pelos contribuintes e consumidores de energia elétrica.
A ACRÉSCIMO teme que a
decisão do Parlamento Europeu e a estratégia do Governo possam acelerar o
processo de desflorestação e o avanço da desertificação em Portugal
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