Em resposta à pressão social pela
desastrosa expansão das plantações de eucalipto em Portugal, em clara violação
de princípios orientadores inscritos na Lei de Bases da Política Florestal, a
indústria papeleira respondeu com uma campanha de marketing designada “Projecto Melhor Euicalipto”.
No conjunto de atividades inseridas nesta
campanha, são notórias a deficiente abordagem técnica e a ausência de abordagem
comercial.
Para
além das sessões de âmbito regional, inseridas nesta campanha de marketing
empresarial, financiada por fundos públicos (PDR 2020), está ainda a divulgação
de simuladores, entre eles um simulador designado “Modelos de
investimento”.
Para
este simulador de modelos de investimento em plantações de eucalipto, a
organização que representa a indústria papeleira alerta para o caráter
deficiente do mesmo, eximindo-se de qualquer responsabilidade sobre a sua utilização
por potenciais investidores.
Tem,
efetivamente, motivos de sobre para se desresponsabilizar por esta iniciativa:
Por um
lado, o modelo está dependente da fixação, pelo potencial investidor, do preço
de venda da madeira (valor da madeira). Importa alerta que, este é,
unilateralmente, fixado pela procura. Assim sendo, o risco de utilização do
simulador recai integralmente do lado do potencial investidor. Nos testes
efetuados, numa ação de arborização, para se alcançar uma taxa interna de
rentabilidade (TIR) de 5%, com um valor atual final líquido positivo, o valor
da madeira, antes de corte, pode variar entre 11,70 e 37,00 Euros por metro cúbico.
Para a
fixação de tal preço, o modelo ignora ainda itens essenciais, entre eles a
dimensão da propriedade (a dimensão da área a corte), o declive, o diâmetro das
árvores, os obstáculos existentes na área a corte, o tipo de vegetação
existente no subcoberto (se herbácea ou arbustiva), bem como do grau de pedregosidade
do terreno. Curiosamente, estes itens constam de uma matriz de operações
publicada pelo Ministério da Agricultura, que parece ser aqui ignorada. Não
entra ainda em linha de conta com a distância de transporte da rolaria de
eucalipto.
Por
outro lado, os resultados das simulações mantêm fixos os encargos de instalação
das plantações, bem como das operações de manutenção e de adubação. Ou seja, não
entra em linha de conta com os itens acima descritos. Os valores considerados são
idênticos para uma grande propriedade do Ribatejo, como para o minifúndio do
Centro ou Norte.
Pior,
os custos considerados são extraordinariamente baixos, seja nas operações de (re)arborização,
seja nas de beneficiação das plantações, em clara dessintonia com as matrizes
publicadas pelo Ministério da Agricultura e referentes aos custos de referência
das operações florestais. Saliente-se o facto de, no custo de instalação (de
1.350,00 €/há), se poder estar a praticar valores abaixo do custo real. Não se
registaram, contudo, referências a este respeito por parte das organizações que
representam os empreiteiros florestais.
A ausência de uma abordagem comercial no
seio desta campanha de marketing aporta riscos sociais muito consideráveis. O
abandono da gestão das plantações de eucalipto é um problema com impacto
exponencial. Se as plantações de eucalipto eram, em 1996, responsáveis por 3%
da área ardida total no país, em 2016, essa percentagem atingiu os 40%. Na área
ardida em povoamentos florestais, essas percentagens são de, respetivamente,
13% para 70%.
Existem fatores que, num futuro muito próximo,
tendem a agravar consideravelmente este problema. Não se regista, por parte do
Governo, a tomada de medidas credíveis para atenuar um risco exponencial para a
sociedade. Portugal tende a tornar-se a Indonésia europeia no que respeita ao
impacto das plantações nos incêndios rurais.
Importa ainda ter em conta que, estas
iniciativas de promoção do investimento em plantações de eucalipto eram, no
final do século passado, financiadas exclusivamente por fundos empresariais.
Nota-se hoje o recurso ao Orçamento do Estado para o mesmo fim.
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