quinta-feira, 25 de maio de 2017

“Melhor Eucalipto”: campanha de marketing empresarial

Em resposta à pressão social pela desastrosa expansão das plantações de eucalipto em Portugal, em clara violação de princípios orientadores inscritos na Lei de Bases da Política Florestal, a indústria papeleira respondeu com uma campanha de marketing designada “Projecto Melhor Euicalipto”.

No conjunto de atividades inseridas nesta campanha, são notórias a deficiente abordagem técnica e a ausência de abordagem comercial.


Para além das sessões de âmbito regional, inseridas nesta campanha de marketing empresarial, financiada por fundos públicos (PDR 2020), está ainda a divulgação de simuladores, entre eles um simulador designado “Modelos de investimento”.

Para este simulador de modelos de investimento em plantações de eucalipto, a organização que representa a indústria papeleira alerta para o caráter deficiente do mesmo, eximindo-se de qualquer responsabilidade sobre a sua utilização por potenciais investidores.

Tem, efetivamente, motivos de sobre para se desresponsabilizar por esta iniciativa:

Por um lado, o modelo está dependente da fixação, pelo potencial investidor, do preço de venda da madeira (valor da madeira). Importa alerta que, este é, unilateralmente, fixado pela procura. Assim sendo, o risco de utilização do simulador recai integralmente do lado do potencial investidor. Nos testes efetuados, numa ação de arborização, para se alcançar uma taxa interna de rentabilidade (TIR) de 5%, com um valor atual final líquido positivo, o valor da madeira, antes de corte, pode variar entre 11,70 e 37,00 Euros por metro cúbico.

Para a fixação de tal preço, o modelo ignora ainda itens essenciais, entre eles a dimensão da propriedade (a dimensão da área a corte), o declive, o diâmetro das árvores, os obstáculos existentes na área a corte, o tipo de vegetação existente no subcoberto (se herbácea ou arbustiva), bem como do grau de pedregosidade do terreno. Curiosamente, estes itens constam de uma matriz de operações publicada pelo Ministério da Agricultura, que parece ser aqui ignorada. Não entra ainda em linha de conta com a distância de transporte da rolaria de eucalipto.

Por outro lado, os resultados das simulações mantêm fixos os encargos de instalação das plantações, bem como das operações de manutenção e de adubação. Ou seja, não entra em linha de conta com os itens acima descritos. Os valores considerados são idênticos para uma grande propriedade do Ribatejo, como para o minifúndio do Centro ou Norte.

Pior, os custos considerados são extraordinariamente baixos, seja nas operações de (re)arborização, seja nas de beneficiação das plantações, em clara dessintonia com as matrizes publicadas pelo Ministério da Agricultura e referentes aos custos de referência das operações florestais. Saliente-se o facto de, no custo de instalação (de 1.350,00 €/há), se poder estar a praticar valores abaixo do custo real. Não se registaram, contudo, referências a este respeito por parte das organizações que representam os empreiteiros florestais.


A ausência de uma abordagem comercial no seio desta campanha de marketing aporta riscos sociais muito consideráveis. O abandono da gestão das plantações de eucalipto é um problema com impacto exponencial. Se as plantações de eucalipto eram, em 1996, responsáveis por 3% da área ardida total no país, em 2016, essa percentagem atingiu os 40%. Na área ardida em povoamentos florestais, essas percentagens são de, respetivamente, 13% para 70%.


Existem fatores que, num futuro muito próximo, tendem a agravar consideravelmente este problema. Não se regista, por parte do Governo, a tomada de medidas credíveis para atenuar um risco exponencial para a sociedade. Portugal tende a tornar-se a Indonésia europeia no que respeita ao impacto das plantações nos incêndios rurais.

Importa ainda ter em conta que, estas iniciativas de promoção do investimento em plantações de eucalipto eram, no final do século passado, financiadas exclusivamente por fundos empresariais. Nota-se hoje o recurso ao Orçamento do Estado para o mesmo fim.


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