De
acordo com um recente relatório
publicado pela FAO, Portugal é o único país da Europa
com perda líquida de área florestal. Mas, será que é só o arvoredo que Portugal
tem em perda?
O relatório da FAO revela a nível internacional
a situação já conhecida através do último Inventário Florestal Nacional. Não há
novidade portanto no plano interno, se bem que nada de concreto tenha resultado
em termos de mudança de política. Mas, no plano externo fica ferida a
sustentabilidade dos recursos florestais nacionais, com os impactos comerciais
que daí possam resultar.
Associada na maior parte à perda de área de
pinhal bravo, resultante sobretudo da fácil propagação dos incêndios e da
incontrolada proliferação de pragas e doenças, a desflorestação em Portugal decorre
de um inadequado modelo de gestão florestal, o abandono, o qual tem na base um
declínio acentuado no rendimento da silvicultura.
A Acréscimo tem alertado para o facto de ser
impossível assegurar a sustentabilidade de floresta privada sem rendimento, e
este gera-se sobretudo nos mercados. Poderá o país continuar a derramar
subsídios sobre as florestas, a demonstrar até a mais nobre das preocupações
sobre as catástrofes estivais que sacrificam arvoredo, animais e as populações
rurais, em muitos casos involuntariamente estimulados pelos próprios subsídios.
Pode inclusive, e com razão, considerar que o modelo de gestão que vigora em
grande parte das áreas florestais nacionais, sobretudo nas regiões de maior
risco, não é o adequado. Todavia, o essencial do problema não tem sido posto em
causa: os mercados e o seu funcionamento. Importa ter em consideração que
existem no sul da Europa extensas áreas de pinhal que, apesar dos
inconvenientes vários da monocultura, não arde. Não arde por uma razão de base,
são áreas privadas submetidas a gestão profissional. São geridas por uma razão
simples, geram rendimento que permite suportar os custos dessa gestão (e até o
cofinanciamento de corpos profissionais de bombeiros florestais).
Não vale a pena continuarmos a enganar-nos com
PDR2020 e outros financiamentos públicos. Nunca antes, como no período 1990-2015,
as florestas nacionais usufruíram de tanto apoio dos contribuintes, também
nunca ardeu tanto como neste período.
Mas não é só arvoredo que o país perde. O valor
económico das florestas decresceu a pique, mas com ele contraiu ainda mais o
emprego no setor, para não argumentar com o impacte ambiental resultante destas
perdas.
Se o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da
silvicultura sobre o VAB nacional contraiu dos 1,2% em 1990 para os 0,5% em
2013 (última publicação das Contas Económicas da Silvicultura pelo INE), o emprego
no setor florestal (silvicultura, indústrias florestais e serviços) era
avaliado em mais de 250 mil postos de trabalho em 1993, situando-se agora
abaixo dos 100 mil.
Será sustentável a atual situação das florestas
e do setor florestal em Portugal?
Fonte: FAO;Global Forest Resources Assessment 2015
A mudança, se o país a quiser verdadeiramente
operar, não pode excluir, como até aqui, uma intervenção oficial nos mercados
(e não é através de plataformas de acompanhamento). Não será o único tópico a
ter em consideração, mas é o de base num país em que mais de 90% das áreas
florestais estão na posse de entidades não públicas, essencialmente famílias,
empresas familiares e comunidades rurais.
A Acréscimo, na sequência da publicação do
relatório da FAO, vai insistir junto do Poder e dos Partidos Políticos para a
necessidade de adequar a visão para as florestas portuguesas à sua realidade no
meio rural nacional e às mais valias que a mesma pode e deve aportar às
gerações futuras. Para o efeito, apresentará propostas concretas para uma
mudança. Assim as queira ter em conta.
A atual realidade da floresta em Portugal não é sustentável. Os
decisores políticos tem evitado tomar as medidas necessárias para garantir a
sustentabilidade deste importante recurso natural renovável. A intervenção
junto dos mercados é a medida de base. Sem rendimento não é possível gerir, sem
gestão não haverá como proteger floresta privada. No final perdemos todos (ou
quase todos).
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