terça-feira, 17 de novembro de 2015

Há na Europa um único país em desflorestação

De acordo com um recente relatório publicado pela FAO, Portugal é o único país da Europa com perda líquida de área florestal. Mas, será que é só o arvoredo que Portugal tem em perda?


O relatório da FAO revela a nível internacional a situação já conhecida através do último Inventário Florestal Nacional. Não há novidade portanto no plano interno, se bem que nada de concreto tenha resultado em termos de mudança de política. Mas, no plano externo fica ferida a sustentabilidade dos recursos florestais nacionais, com os impactos comerciais que daí possam resultar.

Associada na maior parte à perda de área de pinhal bravo, resultante sobretudo da fácil propagação dos incêndios e da incontrolada proliferação de pragas e doenças, a desflorestação em Portugal decorre de um inadequado modelo de gestão florestal, o abandono, o qual tem na base um declínio acentuado no rendimento da silvicultura.

A Acréscimo tem alertado para o facto de ser impossível assegurar a sustentabilidade de floresta privada sem rendimento, e este gera-se sobretudo nos mercados. Poderá o país continuar a derramar subsídios sobre as florestas, a demonstrar até a mais nobre das preocupações sobre as catástrofes estivais que sacrificam arvoredo, animais e as populações rurais, em muitos casos involuntariamente estimulados pelos próprios subsídios. Pode inclusive, e com razão, considerar que o modelo de gestão que vigora em grande parte das áreas florestais nacionais, sobretudo nas regiões de maior risco, não é o adequado. Todavia, o essencial do problema não tem sido posto em causa: os mercados e o seu funcionamento. Importa ter em consideração que existem no sul da Europa extensas áreas de pinhal que, apesar dos inconvenientes vários da monocultura, não arde. Não arde por uma razão de base, são áreas privadas submetidas a gestão profissional. São geridas por uma razão simples, geram rendimento que permite suportar os custos dessa gestão (e até o cofinanciamento de corpos profissionais de bombeiros florestais).

Não vale a pena continuarmos a enganar-nos com PDR2020 e outros financiamentos públicos. Nunca antes, como no período 1990-2015, as florestas nacionais usufruíram de tanto apoio dos contribuintes, também nunca ardeu tanto como neste período.

Mas não é só arvoredo que o país perde. O valor económico das florestas decresceu a pique, mas com ele contraiu ainda mais o emprego no setor, para não argumentar com o impacte ambiental resultante destas perdas.

Se o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura sobre o VAB nacional contraiu dos 1,2% em 1990 para os 0,5% em 2013 (última publicação das Contas Económicas da Silvicultura pelo INE), o emprego no setor florestal (silvicultura, indústrias florestais e serviços) era avaliado em mais de 250 mil postos de trabalho em 1993, situando-se agora abaixo dos 100 mil.

Será sustentável a atual situação das florestas e do setor florestal em Portugal?

Fonte: FAO;Global Forest Resources Assessment 2015

A mudança, se o país a quiser verdadeiramente operar, não pode excluir, como até aqui, uma intervenção oficial nos mercados (e não é através de plataformas de acompanhamento). Não será o único tópico a ter em consideração, mas é o de base num país em que mais de 90% das áreas florestais estão na posse de entidades não públicas, essencialmente famílias, empresas familiares e comunidades rurais.

A Acréscimo, na sequência da publicação do relatório da FAO, vai insistir junto do Poder e dos Partidos Políticos para a necessidade de adequar a visão para as florestas portuguesas à sua realidade no meio rural nacional e às mais valias que a mesma pode e deve aportar às gerações futuras. Para o efeito, apresentará propostas concretas para uma mudança. Assim as queira ter em conta.

A atual realidade da floresta em Portugal não é sustentável. Os decisores políticos tem evitado tomar as medidas necessárias para garantir a sustentabilidade deste importante recurso natural renovável. A intervenção junto dos mercados é a medida de base. Sem rendimento não é possível gerir, sem gestão não haverá como proteger floresta privada. No final perdemos todos (ou quase todos).


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