segunda-feira, 23 de novembro de 2015

A “estória” do cadastro rústico e as florestas

O cadastro rústico não é diretamente um instrumento de politica florestal, é o sim de politica de ordenamento do território. Mas, como será possível desenvolver sustentada e sustentavelmente medidas e instrumentos de política florestal sem um conhecimento mínimo do seu principal grupo alvo?


Passou mais uma Legislatura, estamos no início de uma nova. Depois de na anterior um responsável governamental tem mencionado que seria um falhanço se o cadastro rústico não tivesse sido concluído até final do mandato, o facto é que não o foi. Falharam.


Pior. A problemática da conclusão (e já agora, da atualização) do cadastro rústico voltou a estar atribuída a uma comissão. Ou seja, é para adiar. Voltou-se à fase dos projetos piloto, outro embuste sinónimo de adiamento.

Enquanto isso, a prossecução de uma política florestal em Portugal continua coxa. O principal público alvo dos instrumentos e das suas medidas continua por caraterizar (e aqui há que ir além do cadastro).

Mesmo na atribuição de subsídios às florestas, o desempenho fica sempre muito aquém do planeado. Sempre. Entre o planeado e o executado fisicamente, no terreno, vão diferenças abismais. Pior, não há garantias de segurança para o financiamento público concretizado.

Portugal suporta hoje o único caso de desflorestação na Europa (na apenas na União Europeia). Este, mais do que um mero falhanço interno, é uma falha grave no plano internacional, face aos compromissos que o País assumiu a este nível.

Pior, esta situação de perda de área líquida de ocupação florestal ocorre após um período de máximo apoio dos contribuintes ao setor, seja através de subsídios às florestas, seja de benefícios fiscais às industrias florestais. Maior o apoio público, pior floresta?

A atividade silvícola em Portugal confronta-se com vários problemas graves, um de rendimentos, ou de mercados, outro decorrente da falta de assistência técnica, ou melhor, de extensão, outro de não se saber quem é quem numa mancha florestal que é em mais de 90% detida por privados, maioritariamente famílias e empresas familiares, e por comunidades rurais. Vivemos de estimativas.

Curiosamente, já antes haviam sido cabimentadas verbas, fundamentalmente em fundos comunitários, para a resolução do problema do cadastro rústico. Cabimentadas foram, concretizado o objetivo é que não. Mas, as verbas tiveram destino.


Em Portugal poderemos continuar a ter por enfoque as espécies florestais na definição de medidas e de instrumentos de política. Contudo, sem ter um adequado conhecimento dos detentores das áreas florestais, sobretudo nas regiões onde estas apresentam maior risco, dificilmente conseguiremos contrariar o fenómeno de desflorestação que hoje vivenciamos. Para uma mudança, a concretização do cadastro rústico é essencial. Este objetivo não é concretizável num curto espaço de tempo, mas há que lhe dar início, todavia sem subterfúgios de comissões e projetos piloto.


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