No início de abril foi anunciado pelo Governo o dispositivo de
combate aos incêndios florestais para 2015. Mas, será que a solução para diminuir
os efeitos causados por esta catástrofe estival nacional passa pelo seu
combate, ou será que estamo-nos / estão-nos a enganar?
Hoje em dia, parece consensual a associação entre os riscos associados
aos incêndios florestais, no que respeita à sua propagação, medida em área
ardida, com a gestão dos espaços florestais. Ou seja, todos associam um maior
risco de incêndio à ausência de gestão florestal.
Mas, o que é a gestão florestal? O conceito data de 1958 e
corresponde à aplicação de métodos comerciais e de princípios técnicos
florestais na administração de uma propriedade florestal. Às componentes comercial
(sempre esquecida na aplicação do conceito) e técnica, associaram-se
mais recentemente, a componente ambiental, para garante do respeito pelos
mecanismos de sustentabilidade dos ecossistemas, e social, vinculada às condições
de trabalho, de combate à escravatura, e ao bem estar das populações.
Não será difícil de aceitar, mesmo por aqueles que têm um maior
afastamento ao meio rural, que a concretização de operações e técnicas de gestão
florestal acarreta encargos. Será também fácil pressupor que tais encargos, em
floresta privada, são suportados pelos rendimentos auferidos pela produção de
bens, seja madeira, cortiça, frutos secos ou outros, ou pela prestação de
serviços, como recreio, caça, paisagem, e mesmos os serviços ambientais, na
proteção do solo, no controlo de cheias, no sequestro de carbono, entre outros.
O abandono ou ausência de gestão acaba por ser um modelo de gestão,
sendo este adaptado às expetativas de rendimento de uma propriedade florestal.
O que talvez muitos não saibam é como funcionam os mercados de
bens florestais, como funciona o mecanismo de formação dos preços dos mais
expressivos bens de base florestal, e de qual a evolução histórica desses
preços. Se os mercados funcionam em concorrência imperfeita, com o domínio por
oligopólios protegidos pelo poder político, se os preços são unilateralmente
impostos pela indústria, sem ter em conta os encargos de uma adequada gestão
florestal, e se a evolução histórica dos preços à floresta privada tem gerado
um declínio progressivo da atividade florestal, será que uma mera aposta em
combate é racional? É-o em parte, mas numa ínfima parte. Contudo, caso não se
mude de paradigma na visão sobre a floresta privada, o negócio do combate (a
que alguns apelidam de “indústria do fogo”) terá sucesso assegurado no futuro.
Tendo
por base o histórico de outros países do sul da Europa, sabe-se que:
Se a
floresta privada gera rendimentos que permitam suportar uma gestão
profissional, economicamente sustentada, ambientalmente sustentável e
socialmente responsável, mesmo em situações extremas de monocultura, os riscos
associados aos incêndios são substancialmente diminutos.
Se a
floresta privada gera riqueza que serve de suporte, a par de outras atividades
rurais, a subsistência digna das populações locais, mesmo em situações extremas
de monocultura, os riscos associados aos incêndios diminuem substancialmente.
Logo,
a solução parece ser simples: com negócio (verde) e pessoas, a floresta
terá garantida a sua proteção. Sem a regulação dos interesses que inviabilizam
esse negócio e sem um combate efetivo ao êxodo rural, as florestas continuarão
a arder, e cada vez mais. Isto apesar de se aumentarem continuamente os dispositivos
de combate aos incêndios florestais.
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