segunda-feira, 6 de abril de 2015

Verão e incêndios florestais 2015

No início de abril foi anunciado pelo Governo o dispositivo de combate aos incêndios florestais para 2015. Mas, será que a solução para diminuir os efeitos causados por esta catástrofe estival nacional passa pelo seu combate, ou será que estamo-nos / estão-nos a enganar?

Hoje em dia, parece consensual a associação entre os riscos associados aos incêndios florestais, no que respeita à sua propagação, medida em área ardida, com a gestão dos espaços florestais. Ou seja, todos associam um maior risco de incêndio à ausência de gestão florestal.

Mas, o que é a gestão florestal? O conceito data de 1958 e corresponde à aplicação de métodos comerciais e de princípios técnicos florestais na administração de uma propriedade florestal. Às componentes comercial (sempre esquecida na aplicação do conceito) e técnica, associaram-se mais recentemente, a componente ambiental, para garante do respeito pelos mecanismos de sustentabilidade dos ecossistemas, e social, vinculada às condições de trabalho, de combate à escravatura, e ao bem estar das populações.

Não será difícil de aceitar, mesmo por aqueles que têm um maior afastamento ao meio rural, que a concretização de operações e técnicas de gestão florestal acarreta encargos. Será também fácil pressupor que tais encargos, em floresta privada, são suportados pelos rendimentos auferidos pela produção de bens, seja madeira, cortiça, frutos secos ou outros, ou pela prestação de serviços, como recreio, caça, paisagem, e mesmos os serviços ambientais, na proteção do solo, no controlo de cheias, no sequestro de carbono, entre outros.

O abandono ou ausência de gestão acaba por ser um modelo de gestão, sendo este adaptado às expetativas de rendimento de uma propriedade florestal.

O que talvez muitos não saibam é como funcionam os mercados de bens florestais, como funciona o mecanismo de formação dos preços dos mais expressivos bens de base florestal, e de qual a evolução histórica desses preços. Se os mercados funcionam em concorrência imperfeita, com o domínio por oligopólios protegidos pelo poder político, se os preços são unilateralmente impostos pela indústria, sem ter em conta os encargos de uma adequada gestão florestal, e se a evolução histórica dos preços à floresta privada tem gerado um declínio progressivo da atividade florestal, será que uma mera aposta em combate é racional? É-o em parte, mas numa ínfima parte. Contudo, caso não se mude de paradigma na visão sobre a floresta privada, o negócio do combate (a que alguns apelidam de “indústria do fogo”) terá sucesso assegurado no futuro.


Tendo por base o histórico de outros países do sul da Europa, sabe-se que:

Se a floresta privada gera rendimentos que permitam suportar uma gestão profissional, economicamente sustentada, ambientalmente sustentável e socialmente responsável, mesmo em situações extremas de monocultura, os riscos associados aos incêndios são substancialmente diminutos.

Se a floresta privada gera riqueza que serve de suporte, a par de outras atividades rurais, a subsistência digna das populações locais, mesmo em situações extremas de monocultura, os riscos associados aos incêndios diminuem substancialmente.

Logo, a solução parece ser simples: com negócio (verde) e pessoas, a floresta terá garantida a sua proteção. Sem a regulação dos interesses que inviabilizam esse negócio e sem um combate efetivo ao êxodo rural, as florestas continuarão a arder, e cada vez mais. Isto apesar de se aumentarem continuamente os dispositivos de combate aos incêndios florestais.


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