O Presidente da República, numa recente deslocação à região
Centro, manifestou a necessidade de empenho dos Portugueses para com as
florestas. Não haverá muito a comentar, para além do realce a dois pormenores:
um sobre o real empenho dos Portugueses e o outro sobre o retorno desse
empenho.
Porventura,
o senhor Presidente da República está mal assessorado. Os Portugueses têm dado
um importante contributo para as florestas. Muito para além da participação de
muitos cidadãos em ações de voluntariado, importa realçar o contributo dos
contribuintes no cofinanciamento ao investimento florestal, seja através do
esforço em sede de fundos da Política Agrícola Comum, seja do Orçamento do Estado.
Desde a adesão à União Europeia, o contributo tem envolvido centenas de milhões
de euros provenientes dos nossos impostos. Mais, os Portugueses demonstram o
seu empenho para com as florestas portuguesas a cada deslocação a um posto de
venda de combustíveis líquidos, no regular abastecimento das suas viaturas. Seria
aliás legítimo um agradecimento público, por parte dos decisores políticos, por
estas evidentes provas de empenho. Enquanto contribuem para as florestas, os
cidadãos deixam para segundo plano outros investimentos, incluindo as
necessidades das suas famílias.
O
segundo pormenor prende-se com o retorno deste empenho dos Portugueses. Com os
mercados de produtos florestais em manifesta concorrência imperfeita, será que
esse empenho tem tido resultados positivos? O diagnóstico realizado às
florestas e ao setor florestal nas últimas décadas está longe de o comprovar,
seja no plano económico, seja no social e no ambiental. Centenas de milhões de
euros de empenho dos Portugueses geraram um retorno de menos área florestal,
florestas cada vez mais degradadas, decréscimo do peso do setor no PIB (que já
de si não tem tido uma evolução brilhante), muito menos postos de trabalho no
setor, mais emissões de dióxido de carbono decorrente dos incêndios florestais,
menos biodiversidade, recursos naturais cada vez mais delapidados. Esse
empenho, para além de mais incêndios, mais pragas e doenças, maiores áreas com
espécies invasoras, contínuo êxodo rural, tem assistido ao crescimento de
oligopólios que cativam importantes somas em benefícios fiscais e que, a
qualquer momento encontrarão motivos para se deslocalizar, mas nós ficaremos
com o território, esse não se deslocaliza.
Tudo
indica pois que os problemas que envolvem as florestas em Portugal não se
resolvem apenas pelo empenho dos Portugueses. Ou melhor, talvez esse empenho
tenha de ser redirecionado. Não tanto no cofinanciamento ao investimento
florestal, através dos seus impostos e das taxas que lhes são cobradas, nem
mesmo no seu empenho em ações de voluntariado, em plantações esporádicas de arvorezinhas,
mas talvez pela exigência de mercados transparentes e a funcionar em concorrência
perfeita. Talvez este último empenho tenha resultados decisivamente positivos.
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