Apesar do
prolongamento do período estival, no qual, graças às condições meteorológicas anteriormente
registadas, os incêndios florestais não tiveram este ano um impacto tão nefasto
como noutros, importa agora recentrar a discussão sobre os verdadeiros problemas
da Floresta Portuguesa, como:
· O
desconhecimento quanto à posse da propriedade rústica em parte considerável do
território, a sua dimensão e fragmentação, a fragilidade do associativismo e a
não gestão da grande maioria das superfícies florestais;
· O desincentivo
ao investimento florestal, pela crescente carga burocrática, pela política de
preços da indústria sobre os bens florestais, por um inadequado tratamento
fiscal, por ineficazes sistemas de controlo de riscos e por ausência de um
serviço de assessoria técnica florestal;
· A pouca
motivação política, os ciclos associados à floresta são demasiado longos face
aos ciclos políticos, o que implica na necessidade de se estabelecerem pactos
estratégicos duradouros ao nível do Parlamento.
· O crescente desligamento,
afastamento ou mesmo desresponsabilização de setores silvo-industriais
relativamente à sua base de matérias-primas, setores esses aos quais a
Sociedade deve exigir maior empenho no respeito pelos princípios do
Desenvolvimento Sustentável e, simultaneamente, de Responsabilidade Social.
As consequências
devastadoras que estes problemas acarretam fazem-se sentir, sobretudo, ao nível
dos incêndios florestais, do alastramento de pragas e doenças, da deterioração
dos solos e das linhas de água, na necessidade de importar material lenhoso e,
consequentemente, no empobrecimento do País.
Atualmente, está
em causa a sustentabilidade da Floresta Portuguesa, subaproveitada,
sobre-explorada e desprotegida.
A situação é de
tal forma grave, que é publicamente assumida pela Autoridade Florestal
Nacional, quando admite que “dentro de 15 anos não teremos material
lenhoso” para viabilizar as necessidades de consumo das empresas do
setor, não só as PME, há alguns anos confrontadas com gravíssimos problemas de
subsistência, mas também as da indústria transformadora de maior dimensão, que
tendem a procurar a sua segurança fora do País. Hoje, importamos cerca de 2.000.000
de metros cúbicos de material lenhoso, com um custo estimado em 200.000.000
de Euros por ano. A burocracia contribui ainda para a eventual perda de cerca
de 300.000.000 de Euros de fundos de Bruxelas destinado à floresta.
Mais grave ainda,
a atual incapacidade em fornecer, de forma racional e sustentável, bens de origem
florestal, inviabiliza projetos futuros e determinantes para a redução das
emissões de GEE e para a diminuição da dependência energética do País.
Importa ter
presente que, qualquer intervenção estratégica em espaços florestais só produzirá
efeitos a médio e longo prazo, bem mais do que um ciclo legislativo. As
árvores levam décadas a crescer, logo a disponibilizar bens, quer seja madeira,
cortiça ou frutos, e a proporcionar serviços, como paisagem, espaços de lazer,
conservação dos solos e da água.
O momento de agir é já. 2011, Ano Internacional das Florestas, é um ótimo
momento para iniciar a mudança. A Acréscimo desafia à Sociedade, todos
temos de contribuir, pois o ganho é de todos, mas principalmente será dos
nossos filhos e netos, as futuras gerações de Portugal.
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