As nomeações de ex-membros de Governos para funções de direção no sector empresarial e financeiro não são novidade. Não surpreende a recente nomeação do ex-secretário de Estado das Florestas do Governo de Passos Coelho, Francisco Gomes da Silva, para um cargo dirigente na associação das empresas de celulose. Novidade poderá ser a nomeação para estas funções, nessa associação, de um não funcionário dessas empresas. Não é ainda expetável que esta nomeação possa ser enquadrada num mesmo patamar de outras situações que, entre outros, envolveram um outro ex-secretário de Estado das Florestas, em 2003, João A. Soares, ou o do atual responsável máximo pela Agência para a Gestão Integrada de Fogos Rurais (AGIF), Tiago M. Oliveira. Estes dois últimos casos enquadram-se no patamar das portas giratórias.
Francisco Gomes da Silva sempre se destacou, como académico, empresário e político, entre os mais acérrimos defensores do atual modelo económico que tem por base a campanha do eucalipto em Portugal. Neste domínio, tem-se assumido como um severo patrono dos proprietários rústicos que se dedicam à produção de rolaria de eucalipto para celulose.
Neste contexto, a ACRÉSCIMO lança já dois desafios ao novo dirigente da associação das empresas de celulose. Outros há a considerar. Por um lado, o de criar condições para dar perna ao amputado discurso de necessidade de gestão ativa ou de melhoria da produtividade destas plantações, inserindo-lhes inequivocamente uma palavra de cinco letras: preço. Com efeito, o discurso por uma melhor gestão destas plantações (se é que ainda é possível retirar-lhes dose significativa de risco) tem sido falseado por um decréscimo sistemático do preço da rolaria de eucalipto à porta da fábrica. Esta situação ocorre desde 1995. Por outro lado, o de definir critérios credíveis para reconhecimento da condição de fornecedor destas empresas, baseado em indicadores de cariz técnico, mas também de cariz financeiro e comercial. Vários querem instalar plantações de eucalipto, mas é falso que todos o possam fazer sem acréscimo de riscos ambientais, sociais e económicos, presentes e futuros.
Importa
lembrar que as empresas que Francisco Gomes da Silva agora representa têm
enormes responsabilidades no agravamento dos riscos no território. Sejam os
riscos diretos sobre as populações rurais, sejam os colaterais sobre as
populações urbanas. Sejam os riscos associados à degradação do solo e dos
recursos hídricos, sejam os inerentes ao colapso da biodiversidade, ao aumento
dos níveis de emissões de gases com efeito estufa (incluindo LULUCF), ou à poluição
industrial para a atmosfera e para o meio aquático.
Caminho de fuga em Nodeirinho, Pedrogão Grande, a 10 de abril de 2021, em faixas de gestão de combustível,
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