O “manifesto das
celuloses”, publicado na passada semana, dá grande destaque ao negócio da
certificação florestal
Um negócio de supostas
garantias a serem reconhecidas pelos consumidores, que acabam por ser
suportadas pelos contribuintes
A designada
certificação florestal é um negócio privado que assenta numa garantia
transmitida aos consumidores de que um determinado produto, que incorpora
madeira ou cortiça, é proveniente de uma floresta sob uma gestão sustentável.
Em Portugal acabam por ser os contribuintes a garantir a subsistência do
negócio, num processo de transmissão de responsabilidade do Estado, em matéria
de compromissos internacionais de gestão sustentável das florestas nacionais,
para as entidades que asseguram o negócio da certificação florestal.
A ACRÉSCIMO tem
alertado para a duvidosa credibilidade do negócio, entre outros, por dois
motivos:
1. Não é transparente o processo de monitorização, se
existente, da aplicação de resíduos industriais, concretamente os
provenientes das fábricas de celulose, em áreas de eucaliptal “certificadas”.
Em causa pode estar a Saúde Pública, tendo em conta a elevada probabilidade de
infiltração de resíduos nos lençóis freáticos ou a escorrência para as linhas
de água. Facilmente se percebe, pelos factos ocorridos no rio Tejo, que esta
indústria tem problemas de autocontrolo na preservação de cursos de água. O
Instituto Nacional de Investigação Agrária e Veterinária não dispõe de estudos
publicados sobre a aplicação destes resíduos em culturas florestais
(habitualmente a ocupar encostas de vales). Ficamos assim restritos aos
resultados da investigação privada ou a estudos financiados pela indústria de
celulose.
2. Igualmente, não é transparente o processo de certificação
pré-corte raso. Ou seja, não existe um período de nojo entre a obtenção de um
certificado e o abate de arvoredo, com mais valias no preço decorrentes da
certificação. A certificação é atribuída antes de corte no pressuposto de que
os seus princípios serão assegurados após a venda do arvoredo. Serão, ou o processo
repete-se previamente a novo corte (10-12 anos após)?
Nos dois casos, a
situação de falta de transparência interessa à indústria da celulose, destacado
cliente da certificação florestal.
Todavia, o pior é o
facto de, perante a falta de reconhecimento dos proprietários florestais e dos
consumidores em geral por estes sistemas de certificação, os governos terem transferido
os encargos deste negócio para os contribuintes, seja os nacionais (via
componente do Orçamento do Estado), sejam os europeus (via componente dos
fundos europeus de apoio ao Desenvolvimento Rural). Quando um consumidor opta
por um produto com certificação florestal acaba por pagar duas vezes pela
garantia que lhe asseguram estar a dar.
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