Recentemente, no concelho da Pampilhosa da Serra e no âmbito da
campanha “Portugal pela Floresta”, a ministra da Agricultura protagonizou, por
breves instantes, uma ação de promoção à prevenção dos incêndios florestais,
através do corte por meios motomanuais de vegetação herbácea e arbustiva.
O estímulo à concretização de ações de redução dos riscos dos
investimentos florestais, em concreto dos incêndios florestais, mais ainda na
proteção de pessoas e bens, é de aplaudir.
Mas, será esta ação mediática protagonizada pela própria ministra condizente
com a prática governativa deste membro do Governo de Portugal?
Em quase três anos de mandato da ministra Assunção Cristas, foram
várias as ocasiões em que foram trazidas a público notícias dando conta de ineficiências
no financiamento público às equipas de sapadores florestais, o que por várias
vezes colocou em causa a sua operacionalidade. Ora, sendo as ações de prevenção
dos incêndios florestais tão importantes para levarem a própria ministra a
equipar-se como sapador florestal, não será a estabilidade operacional das
equipas e dos profissionais que as integram fundamental para a salvaguarda do
nosso património florestal?
Apesar do protagonismo que assumiu na prevenção dos incêndios
florestais, a ponto de se envolver diretamente em operações de campo, porque terá
sido a ministra politicamente incapaz de reverter a aplicação de fundos dos
Orçamentos do Estado de 2012, 2013 e 2014, priorizando em montante a prevenção
ao invés do combate aos incêndios florestais? Com efeito, nestes Orçamentos facilmente
fica visível um substancial desequilíbrio nas verbas atribuídas às ações de
combate, face ao disponibilizado para as ações de prevenção.
Sendo a redução dos riscos um fator inerente à gestão dos
investimentos e estando esta última dependente do rendimento expectável, qual a
razão para a ministra se inibir de intervir no acompanhamento dos mercados de
produtos florestais, sendo sabido que o rendimento líquido da atividade silvícola
tem manifestado um declínio progressivo nas últimas décadas, a ponto de levar
ao abandono da gestão de áreas significativas do território e ao incontrolável êxodo
rural?
A ausência de expectativas de rendimento na atividade silvícola
está na base de uma gestão florestal minimalista ou de abandono, o que coloca
em causa as ações de prevenção dos riscos deste tipo de investimentos, não
apenas no plano da propagação dos incêndios, mas também na proliferação de
pragas e de doenças.
Os encargos com as ações de prevenção dos riscos dos investimentos
florestais deveriam ser suportados pelas receitas dos negócios silvícolas. Porque
o não são? Porque são os contribuintes chamados a suportar os custos inerentes
aos desequilíbrios dos mercados de produtos florestais, quando o Governo
protege interesses financeiros, cada vez mais exógenos aos meios rurais?
Face às questões colocadas e à incapacidade de resposta da
ministra, fica visível que esta aposta mediática não tem paralelo na ação
governativa.
Desta forna, esta aposta no marketing pessoal aparenta ser apenas um
meio de encobrir a falta de uma estratégia política para encontrar soluções que
permitam atenuar ou erradicar os problemas que se colocam à economia florestal
(a montante da atividade industrial), à sustentabilidade dos recursos
florestais e com as migrações populacionais do interior para o litoral ou
exterior.
Teme-se contudo um reforço destas ações de marketing pessoal nos
próximos três meses, bem como um subsequente “eclipse” da equipa ministerial
aquando da próxima época estival.
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