domingo, 25 de agosto de 2024

O incêndio na ilha da Madeira: perigos vindouros

 O incêndio florestal que, desde 14 de agosto, percorre zonas sensíveis da ilha da Madeira já consumiu uma área superior a metade da superfície do concelho da capital portuguesa, Lisboa.

Parte da área percorrida pelas chamas corresponde a património natural nacional classificado a nível da União Europeia e mundial, seja no âmbito da Rede Natura 2000, seja pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. Este património engloba espécies da flora e fauna ímpares, endémicas da Região Autónoma e da Macaronésia. Este facto, só por si, aumenta significativamente as responsabilidades das autoridades regionais e nacionais na sua conservação e preservação.

Apesar de haver ainda um elevado perigo de reacendimentos, associados à significativa área ardida no incêndio em curso, à Acréscimo preocupam já as consequências deste destruidor agente abiótico.

Após a extinção do incêndio, deve de imediato preocupar as autoridades o COMBATE À EROSÃO E PREVENÇÃO DE CHEIAS.

A Madeira devido à sua orogénese, apresenta encostas com declives cujo gradiente favorece o desprendimento de materiais rochosos de grandes dimensões; as águas de escorrência superficial podem adquirir acelerações muito elevadas, com libertação de energia destruidora, como aliás se viu em 2016. É fundamental quebrar este fenómeno seja pela arborização das encostas seja com a criação de bacias de retenção (onde isso for possível). As linhas de água têm de ser desobstruídas e respeitado o seu trajeto natural. Este incêndio e tudo o que perturbe o coberto vegetal potencia fenómenos erosivos com perda drástica de solo, que irá acumular-se nas linhas de água impedindo o escoamento natural ocasionando cheias que poderão ser temíveis.



É necessário pensar na RECUPERAÇÃO DAS ESPÉCIES ENDÉMICAS como a vegetação de altitude e a floresta de lauráceas vulgarmente chamada de Laurissilva. Esta é uma floresta pristina da zona mediterrânica e a Madeira possui um dos últimos resquícios desta bela floresta, que ao longo de milénios temos vindo a destruir; exemplares de vinhático (Persea indica (L.) Spreng. do til (Ocotea foetens (Aiton) Baill, o barbusano (Apollonias barbujana (Cav.) Bomm.) e o louro (Laurus canariensis Webb et Berth., non Willd.) este último espontâneo nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias.

A criação de locais interditos a humanos e animais é fundamental para preservar o rico e frágil coberto vegetal e a biodiversidade da Madeira. Há locais onde devia ser absolutamente proibida a presença humana até para sua própria proteção e proteção da biodiversidade. 

Pode causar algum impacto no turismo, mas se a bela ilha da Madeira se transformar num deserto não há turismo que lhe valha.

Ao nível da SAÚDE PÚBLICA importa diagnosticar casos decorrentes da drástica redução da qualidade do ar, associada à pluma do incêndio, com a emissão de gases com efeito estufa, designadamente de monóxido e dióxido de carbono, óxidos nitrosos e material particulado, com impacto direto e severo no sistema cardiorrespiratório da população, especialmente nos idosa, nas crianças e em doentes com doenças crónicas do foro cardíaco e pneumológico.

A Acréscimo recomenda às autoridades regionais e nacionais que, de forma célere, estabeleçam e concretizem as medidas necessárias à prevenção dos perigos pós-incêndio na ilha da Madeira. Sabemos, do histórico nacional, que tais medidas têm tardado ou têm sido inexistentes. No caso da ilha da Madeira, relembramos os fortes impactos das cheias ocorridas na ilha após os incêndios registados em 2016. Sabemos que consequências poderemos vir agora a enfrentar, por isso alertamos para as responsabilidades acrescidas das autoridades políticas em atenuar tais impactos destrutivos para o ambiente e para as populações.

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