quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Organizações não governamentais dos EUA, Canadá, Letónia, Estónia e Portugal apelam ao novo governo do Reino Unido para parar de subsidiar Drax para queimar árvores das florestas dos seus países

27 de agosto de 2024 - 41 organizações de países que exportam pellets de madeira para o Reino Unido escreveram hoje ao Secretário de Estado Ed Miliband, instando-o a não ceder ao lóbi de Drax por novos subsídios assim que o apoio existente termine em 2027 . [1] A central termoeléctrica a biomassa de Drax, em Yorkshire, queima mais madeira do que qualquer outra central no mundo, toda ela (quase 6 milhões de toneladas de pellets de madeira em 2023) importada. O Reino Unido paga mais subsídios para a queima de madeira, principalmente nas centrais termoeléctricas, do que qualquer outro país da Europa, e Drax é de longe o maior beneficiário destes subsídios. O governo anterior propôs vários anos de novos subsídios, os chamados “transitórios”, para Drax e possivelmente para a central termoeléctrica de Lynemouth, que, de acordo com a sua avaliação de impacto, poderiam ascender a 2,5 mil milhões de libras por ano .





A maioria dos pellets de madeira queimados em Drax vêm do sudeste dos EUA e do Canadá.


Adam Colette, da Dogwood Alliance, [2] com sede na Carolina do Norte, afirma: "As nossas florestas e comunidades há muito que sofrem com as práticas destrutivas da indústria da biomassa. A devastação é liderada pela Drax e financiada pelo governo britânico. A nossa esperança é que uma nova administração veja os impactos que advêm de soluções falsas que prejudicam as pessoas e o ambiente no sul dos EUA e deixam de subsidiar as empresas que destroem o planeta."


Len Vanderstar, Diretor da Bulkley Valley Stewardship Coalition na Colúmbia Britânica [3], acrescenta: “Dado que o mundo se aproximou e até ultrapassou os pontos de viragem no que diz respeito ao aquecimento global, a solução para as alterações climáticas não é uma maior desverdização do planeta.


Drax queima também quantidades substanciais de pellets de madeira provenientes da Letónia, Estónia e Portugal.


Liina Steinberg, membro do Conselho da Save Estonia's Forests [4], afirma: “A pressão sobre as florestas da Estónia continua a aumentar rapidamente. A procura da indústria da biomassa florestal, incluindo a exportação para o Reino Unido, soma-se à crescente procura de pasta de papel, papel e produtos bioquímicos. Para fornecer toda esta madeira, novas propostas legislativas - fortemente apoiadas pela indústria - prevêem as primeiras plantações de árvores em grande escala na Estónia, bem como o enfraquecimento das protecções de áreas naturais supostamente protegidas.»


Viesturs Ķerus da Sociedade Ornitológica da Letónia [5] afirma: “Na Letónia, estamos a assistir a declínios nas populações de espécies florestais que deveríamos proteger, habitats florestais de importância internacional estão a ser destruídos e perdemos o sumidouro de carbono florestal. Embora existam vários factores envolvidos, a procura subsidiada de biomassa para queima por parte do Reino Unido e de outros países é, sem dúvida, um factor importante por detrás desta degradação das nossas florestas.”


Paulo Pimenta de Castro da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal [6] acrescenta: “Em Portugal, a produção de pellets para energia, maioritariamente para exportação, bem como a queima direta de biomassa têm provocado uma perda significativa de cobertura arbórea, afetando espécies autóctones, nomeadamente pinheiros e carvalhos . Esta perda está associada à expansão das plantações de eucalipto e à invasão de acácias, que têm um impacto crescente nos incêndios florestais.”


Os grupos que assinaram a carta apelam ao governo para que utilize o dinheiro poupado ao não conceder novos subsídios a Drax e à Lynemouth Power para apoiar energias renováveis ​​limpas e genuinamente de baixo carbono, como a energia eólica e solar.


domingo, 25 de agosto de 2024

O incêndio na ilha da Madeira: perigos vindouros

 O incêndio florestal que, desde 14 de agosto, percorre zonas sensíveis da ilha da Madeira já consumiu uma área superior a metade da superfície do concelho da capital portuguesa, Lisboa.

Parte da área percorrida pelas chamas corresponde a património natural nacional classificado a nível da União Europeia e mundial, seja no âmbito da Rede Natura 2000, seja pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. Este património engloba espécies da flora e fauna ímpares, endémicas da Região Autónoma e da Macaronésia. Este facto, só por si, aumenta significativamente as responsabilidades das autoridades regionais e nacionais na sua conservação e preservação.

Apesar de haver ainda um elevado perigo de reacendimentos, associados à significativa área ardida no incêndio em curso, à Acréscimo preocupam já as consequências deste destruidor agente abiótico.

Após a extinção do incêndio, deve de imediato preocupar as autoridades o COMBATE À EROSÃO E PREVENÇÃO DE CHEIAS.

A Madeira devido à sua orogénese, apresenta encostas com declives cujo gradiente favorece o desprendimento de materiais rochosos de grandes dimensões; as águas de escorrência superficial podem adquirir acelerações muito elevadas, com libertação de energia destruidora, como aliás se viu em 2016. É fundamental quebrar este fenómeno seja pela arborização das encostas seja com a criação de bacias de retenção (onde isso for possível). As linhas de água têm de ser desobstruídas e respeitado o seu trajeto natural. Este incêndio e tudo o que perturbe o coberto vegetal potencia fenómenos erosivos com perda drástica de solo, que irá acumular-se nas linhas de água impedindo o escoamento natural ocasionando cheias que poderão ser temíveis.



É necessário pensar na RECUPERAÇÃO DAS ESPÉCIES ENDÉMICAS como a vegetação de altitude e a floresta de lauráceas vulgarmente chamada de Laurissilva. Esta é uma floresta pristina da zona mediterrânica e a Madeira possui um dos últimos resquícios desta bela floresta, que ao longo de milénios temos vindo a destruir; exemplares de vinhático (Persea indica (L.) Spreng. do til (Ocotea foetens (Aiton) Baill, o barbusano (Apollonias barbujana (Cav.) Bomm.) e o louro (Laurus canariensis Webb et Berth., non Willd.) este último espontâneo nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias.

A criação de locais interditos a humanos e animais é fundamental para preservar o rico e frágil coberto vegetal e a biodiversidade da Madeira. Há locais onde devia ser absolutamente proibida a presença humana até para sua própria proteção e proteção da biodiversidade. 

Pode causar algum impacto no turismo, mas se a bela ilha da Madeira se transformar num deserto não há turismo que lhe valha.

Ao nível da SAÚDE PÚBLICA importa diagnosticar casos decorrentes da drástica redução da qualidade do ar, associada à pluma do incêndio, com a emissão de gases com efeito estufa, designadamente de monóxido e dióxido de carbono, óxidos nitrosos e material particulado, com impacto direto e severo no sistema cardiorrespiratório da população, especialmente nos idosa, nas crianças e em doentes com doenças crónicas do foro cardíaco e pneumológico.

A Acréscimo recomenda às autoridades regionais e nacionais que, de forma célere, estabeleçam e concretizem as medidas necessárias à prevenção dos perigos pós-incêndio na ilha da Madeira. Sabemos, do histórico nacional, que tais medidas têm tardado ou têm sido inexistentes. No caso da ilha da Madeira, relembramos os fortes impactos das cheias ocorridas na ilha após os incêndios registados em 2016. Sabemos que consequências poderemos vir agora a enfrentar, por isso alertamos para as responsabilidades acrescidas das autoridades políticas em atenuar tais impactos destrutivos para o ambiente e para as populações.

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