Preocupante o impacte no Sítio da Rede Natura de Monchique
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO estão preocupadas com os grandes incêndios que têm afetado o território desde o final da semana passada, devido aos impactes sobre os ecossistemas florestais e afetação dos serviços ambientais, incluindo a degradação da qualidade do ar.
Este ano a área ardida em espaços rurais ultrapassou já os 25291 hectares, segundo dados do Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a 8 de agosto, com 57% em área de povoamentos florestais, num total de 5743 ocorrências.
O incêndio com início no Vale da Telha, freguesia de São Teotónio, no concelho de Odemira, no passado sábado, dia 5, já ultrapassou os 10 mil hectares de área ardida, sendo o maior do ano e tendo atingido áreas nos concelhos de Aljezur e Monchique.
Eucaliptais da The Navigator Company arderam - fica a nu o mito da “boa gestão”
O fogo tem afetado vastas áreas de eucaliptal da antiga Portucel (The Navigator Company), nos concelhos de Odemira e Monchique, mas também zonas de floresta mediterrânica na base da serra de Monchique, apesar do reforço de meios de combate que ultrapassaram os 1100 operacionais, 340 viaturas e até 15 meios aéreos alocados pelas autoridades.
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO, consideram que as plantações de eucalipto configuram grandes áreas contínuas de monocultura que devem ser reequacionadas. Isso é fundamental para reduzir o risco de propagação de incêndios devido a projeções de materiais incandescentes a grande distância, as quais dispersam focos secundários de fogo e, portanto, dificultam o controlo e extinção do incêndio como se está a verificar em várias áreas, nomeadamente em Odemira, Aljezur e Monchique.
Zona Especial de Conservação de Monchique da Rede Natura afetada
O incêndio de Odemira, está a destruir parte da Zona Especial de Conservação (ZEC) de Monchique da Rede Natura 2000, que integra também a Zona de Proteção Especial (ZPE) para a avifauna. Destaca-se a importante população de águia de Bonelli (Aquila fasciata) com estatuto de conservação ‘Em Perigo de extinção’. Ocorrem também alguns habitats relíquia como os adelfeirais sobretudo nas encostas e fundo dos vales da vertente norte da Serra de Monchique, mas também outras áreas de floresta mediterrânica biodiversa dominada por sobreirais.
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO apelam à necessidade de reconverter antigos eucaliptais que tinham sido plantados em áreas de floresta mediterrânica, apostando em espécies mais resilientes ao fogo, o que é essencial para uma resposta estrutural aos problemas que enfrentamos, sobretudo em áreas sensíveis vocacionadas para conservação da natureza, como é a ZEC de Monchique da Rede Natura 2000.
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO reforçam que manter o eucalipto revela falta de visão estratégica ao comprometer o futuro do território e a própria economia rural devido à maior vulnerabilidade aos incêndios, pela perda de serviços dos ecossistemas e afetação da atividade de turismo nesta área do Litoral Alentejano e Algarve.
Esperamos que a The Navigator Company se comprometa com verdadeiras medidas de conservação, reconvertendo os eucaliptais, reduzindo a sua área conforme o disposto na legislação, nomeadamente na Estratégia Nacional para as Florestas, o que contrasta com a pressão da indústria de celulose para novas plantações de eucalipto.
Lisboa, 9 de agosto de 2023
A Direção da ACRÉSCIMO, Associação de Promoção ao Investimento Florestal
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