Na sequência da denúncia pela QUERCUS e pela ACRÉSCIMO, em agosto último, da
adulteração do projeto de
reflorestação aprovado pelo Instituto da Conservação da Natureza e das
Florestas (ICNF) e promovido pela CELPA, Associação da Indústria Papeleira,
agora com a designação BIOND, Forest
Fibers from Portugal, com a plantação ilegal de eucaliptos em área aprovada
para medronheiros, o instituto público anunciou ter averiguado a situação e, mais tarde, ter notificado a entidade promotora do projeto
“para o arranque e remoção dos eucaliptos ilegalmente instalados na parcela
onde apenas estava autorizada plantação de medronheiros”.
Em recente vistoria realizada pela equipa da QUERCUS e da
ACRÉSCIMO à parcela integrante do projeto de (re)arborização identificado com o
código P_ARB_047406, com ponto de observação com as coordenadas GPS 39.876717°N
-8.170733°W, foi constatada a suspeita de ter sido apenas uma parte da mesma
sujeita a regularização, permanecendo eucaliptos na
parcela aprovada para medronheiros.
Na mesma vistoria, a equipa da QUERCUS e da ACRÉSCIMO
suspeita de potencial
adulteração do projeto, neste caso em parcela
também destinada e aprovada para a instalação de medronheiros, integrada em
projeto de (re)arborização identificado com o código P_ARB_0470421, em ponto com as coordenadas GPS 39.880117°N -8.177283°W. A
base da suspeita reside na ocupação anterior à mobilização
do solo, por matos mediterrânicos, e ao tipo de preparação do solo, em
terraços, tipicamente para eucaliptal.
No início de junho do ano passado, a associação da indústria
papeleira, agora designada BIOND, Forest
Fibers from Portugal, anunciou em vídeo ter promovido a iniciativa demonstrativa “ReNascer
Pedrógão”. Apresentou-o como uma iniciativa “emblemática” no país, de
“gestão florestal exemplar”, baseado num processo “rigoroso” e com “apoio
técnico continuado”. Um “projeto que tem por objetivo a certificação
florestal”, que pretende “contribuir para a reposição dos serviços do
ecossistema”.
Todavia, a realidade difere do anunciado. Nos projetos
acima identificados e em
adjacentes, a QUERCUS e a ACRÉSCIMO reforçam a constatação que, na anunciada
intervenção de construção e beneficiação de caminhos e aceiros, tendo em vista
uma “maior resiliência aos incêndios”, os eucaliptos só não se visualizam nas
faixas de rodagem. Foram plantados até aos limites de caminhos e aceiros.
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO reforçam a denúncia sobre os fortes
impactos decorrentes da extrema mobilização
dos solos. A mobilização em causa, com a construção
de terraços em plena margem direita do rio Zêzere, gerou um enorme volume de
emissões de carbono para a atmosfera, bem como produz um significativo
acréscimo do risco de erosão. Esta injustificável mobilização do solo ocorreu
em plena Reserva Ecológica Nacional (REN) e no enquadramento do Plano de
Ordenamento das Albufeiras de Cabril, Bouçã e Santa Luzia (POAC).
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO
reforçam que esta insistência no eucalipto revela falta de visão estratégica e
compromete o futuro do território pela maior vulnerabilidade aos incêndios e
pela perda de serviços dos ecossistemas. A aposta em espécies mais resilientes
ao fogo é essencial para uma resposta estrutural aos problemas que enfrentamos.
Em conclusão:
A QUERCUS e a ACRÉSCIMO, têm sérias dúvidas quanto aos
projetos que as celuloses elaboram ou promovem e o que é efetivamente instalado
no terreno. Desafiam assim a BIOND a comprovar a inexistência de mais
ilegalidades noutros projetos da sua responsabilidade ou por si promovidos, bem
como pelas suas associadas.
Mais, a QUERCUS e a
ACRÉSCIMO denunciam a incapacidade do Estado, nomeadamente do ICNF, na
fiscalização das ações de (re)arborização que autoriza. Essa incapacidade
converte-se num prémio à especulação e à infração, com a consequente expansão
da área de eucalipto ilegal.
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