De acordo com os dados noticiados em comunicado do Ministério da Administração Interna (MAI), atualizados ao dia de hoje pelo Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), foi registado este ano o menor número de incêndios da década, com 7.172 ocorrências, correspondentes à segunda menor área ardida total, este ano de 26.926 hectares, dos quais cerca de 8.070 hectares correspondem a áreas de povoamentos arbóreos, ou seja, a florestas seminaturais e a plantações.
Todavia, de acordo com 6.º relatório provisório de 2021 do ICNF, nos incêndios registados até 15 de setembro e onde foi possível atribuir a causa (69% do total das ocorrências, responsáveis por 89% da área ardida total), o uso negligente e o fogo posto assumem destaque (71%), respetivamente com 48%, onde predominam as queimas e as queimadas, e 23%.
Ou seja, num considerável universo de causas atribuíveis, é notório o pouco impacto das ações de sensibilização sobre os comportamentos.
Tendo em conta os três grupos de fatores que influem nos incêndios florestais:
- ocupação,
- comportamentos e
- meteorologia;
sabendo que, em vastas regiões do território, as ocupações do solo são de elevado risco e que este ano a meteorologia, ao contrário do registado em vastas regiões da União Europeia e contíguas, foi pouco propícia à ocorrência e à propagação de grandes incêndios, os registos sobre os comportamentos são muito preocupantes.
De outro modo, num ano com eventos meteorológicos mais favoráveis a grandes incêndios, concretamente, com golpes de calor, períodos de seca prolongadas e períodos de ventos fortes, os números de incêndios e de área ardida em 2021, como em 2014, serão sobretudo reflexo da meteorologia. Ora, as previsões climáticas apontam para uma maior ocorrência futura de eventos meteorológicos extremos no território nacional. Pelos vistos, os comportamentos pouco se alteraram relativamente aos anos de 2016, 2017 e 2018, nos quais Portugal registou as maiores áreas ardidas totais na União Europeia. As alterações nos usos e ocupações demoram décadas a concretizar e, neste domínio, ainda andamos pelos planos, com elevada probabilidade de nunca terem execução física.
Em suma, podem parecer entusiasmantes os comunicados do MAI, mas o entusiasmo terá pouco de duradouro. Nos comportamentos e nas ocupações, o Governo tem opções erróneas, como se assiste anualmente com o paradigma das “faixas de gestão de combustível”, e conjuga em demasia o verbo procrastinar.
Sem comentários:
Enviar um comentário