segunda-feira, 12 de outubro de 2020

No presente quinquénio, pela primeira vez, ardeu mais floresta do que área de matos

De acordo com os registos oficiais sobre área ardida em Portugal, o presente quinquénio (2016-2020) regista, pela primeira vez, maior área ardida em floresta e em plantações lenhosas do que em área de matos e de ocupação agrícola.

O facto é evidente, mesmo tendo presente que os dados referentes a 2020 são ainda provisórios (atualmente com uma área ardida total de 64.120 hectares, com 48% em área florestal e de plantações lenhosas, 43% em área de matos e cerca de 10% em área agrícola).

A ACRÈSCIMO analisou dados oficiais sobre áreas ardidas em Portugal, referentes aos cinco últimos quinquénios (quase coincidentes com as cinco últimas Legislaturas.

No presente quinquénio (2016-2020), a área ardida em floresta e plantações lenhosas foi superior, em mais de 152 mil hectares, às áreas ardidas em matos e em outras ocupações.

 


Esta situação inverte o estigma de perigosidade associada aos matos. A mesma leva a questionar as opções de política florestal e de ordenamento do território seguidas nos últimos cinco quinquénios.

Em causa está ainda a vulnerabilidade crescente do território face à perda de coberto arbóreo e à desflorestação, designadamente no que respeita às ameaças das alterações climáticas e do avanço da desertificação.

Por último, fica evidente o agravamento da situação de abastecimento de matéria prima lenhosa às indústrias de base florestal, pondo em causa a sua sustentabilidade, com consequências ao nível do emprego, na produção de riqueza e impactos futuros nas exportações.

Urge assim um reajuste na política florestal. Há que adotar, com urgência, medidas para a redução do risco de incêndio em áreas de floresta e de plantações lenhosas, concretamente, as que atuem sobre as causas da vulnerabilidade destas áreas a este agente abiótico. Aqui, assumem destaque o condicionamento do rendimento rural e outros fatores que contribuem para o êxodo rural e o abandono da gestão do território.

Desde 2016 que se tem avançado numa estratégia de ziguezague neste domínio, com os resultados estatísticos que se observam.

 


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Portugal regista este ano a segunda maior área ardida na União Europeia

 

De acordo com os registos do Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla em inglês), envolvendo os incêndios com área ardida superior a 30 hectares, Portugal regista, até ao momento, a segunda maior área ardida em 2020 na União Europeia, com mais de 61 mil hectares ardidos. A maior área ardida foi registada este ano na Roménia, tal como já registado em 2019, numa situação invulgar face ao histórico da década.

Na última década (2006-2019), Portugal surge destacado com a maior área ardida registada neste período (ver gráfico anexo).

Em 2016 e 2017, Portugal registou as maiores áreas ardidas na União Europeia, respetivamente com 161.522 e 540.630 hectares. Em 2018, Portugal registou a terceira maior área ardida na União Europeia, com 43.702 hectares ardidos, antecedido apenas pela Itália e pela Croácia, respetivamente com 161.987 e 48.543 hectares queimados. Em 2019, Portugal ficou com o quinto maior registo, com 34.661 hectares, antecedido pela Roménia, Espanha, França e Itália, respetivamente com 73.444, 66.406, 45.235 e 39.655 hectares queimados. Todavia, em 2019 Portugal registou a segunda maior área ardida num só incêndio em toda a União Europeia. Em 2020, Portugal sobe da quinta para a segunda posição.

Ao nível das ocorrências, no período 2008-2019 e para os incêndios com área ardida superior a 30 hectares, Portugal e Itália destacam-se na União Europeia, com uma média anual superior a 220 ignições. Todavia, em 2020 a Itália assume o lugar cimeiro, seguida pela Roménia e Espanha, só depois surgindo Portugal, com cerca de 160 ocorrências.

Os sucessivos registos alcançados por Portugal evidenciam um elevado risco para as populações, colocando em causa a vida das pessoas, a saúde pública e a sua fixação em meio rural. Têm ainda um forte impacte negativo no território, seja ao nível de conservação dos solos, dos recursos hídricos e da biodiversidade. Acresce ainda o forte impacto ao nível das emissões de gases de efeito estufa. Este risco abiótico condiciona fortemente o investimento em silvicultura, designadamente na produção lenhosa.


 Fonte: https://effis.jrc.ec.europa.eu/static/effis.statistics.portal/effis-estimates/EU


A avaliação efetuada recentemente pelo Governo Português, para a época de incêndios de 2020, desvaloriza a influência meteorológica, a qual tem de ser encarada num espectro mais abrangente. Uma avaliação comparativa, sobretudo ao nível dos Estados Membros do sul da União Europeia, evidencia os enormes problemas existentes em Portugal no que respeita aos tipos de uso e de ocupação dos solos. Neste domínio, a estratégia até agora seguida, na atual e na anterior Legislaturas, em nada contribuiu para um menor risco no território, seja em termos ambientais, seja em termos sociais e económicos.