quinta-feira, 27 de junho de 2019

O INE confirma declínio económico da floresta em 2017


O Instituto Nacional de Estatística (INE) apresentou hoje as Contas Económicas da Silvicultura (CES) relativas ao ano de 2017 (dados provisórios).

Depois de uma ligeira subida, registada entre 2009 e 2015, em 2016 teve início um novo período de declínio.

Tendo em conta a importância do sector silvoindustrial em Portugal, não é razoável que o INE careça de um período de ano e meio para a apresentação de dados provisórios sobre a atividade silvícola e de exploração florestal. Mesmo para a redefinição de estratégia, este longo período é incompatível com a duração de uma legislatura. Seria importante que o INE atribuísse maior prioridade à recolha, ao tratamento e subsequente divulgação destas Contas Económicas.

Na sequência dos incêndios registados em 2017 e apesar do resultado positivo no preço da cortiça, os resultados globais, em termos de Valor Acrescentado Bruto (VAB) e do Rendimento Empresarial Líquido (REL) acentuam a queda iniciada em 2016.

O REL da silvicultura e exploração florestal registou um decréscimo de 6,9% em 2016 e uma queda de 3,3% em 2017.

O valor do VAB da silvicultura em relação ao VAB nacional é agora de 0,5%. Em 2000 atingia os 1,2%. Neste rácio, entre 2016 e 2017 Portugal baixa uma posição a nível da União Europeia. Da nona posição de 2016 baixa para a décima em 2017, situando-se agora atrás da Eslováquia e antes da Roménia.

Em 2016, 2017 e 2018, Portugal registou a maior área ardida na União Europeia. Foi a primeira vez que este registo se prolonga por três anos consecutivos. O facto tem e terá fortes impactos na economia da silvicultura e exploração florestal.

Até ao presente, o Valor Acrescentado Bruto (preços correntes) e o Rendimento Empresarial Líquido da silvicultura estão muito aquém dos valores registados em 2000. Nesse ano foi registada uma queda abrupta, na altura sob o mandato do atual ministro da Agricultura, Capoulas Santos.


Não são visíveis na atual legislatura medidas governamentais para contrariar a quebra de rendimento e perda de importância económica da silvicultura e da exploração florestal. O rendimento é um fator preponderante para assegurar uma gestão ativa e uma consequente contenção dos riscos com incêndios, pragas e doenças.


quarta-feira, 26 de junho de 2019

O Governo pretende instalar extensas áreas de monoculturas intensivas e superintensivas para a produção de eletricidade


A coberto dos incêndios e dos designados “resíduos” florestais, há quem viabilize a criação de negócios de queima de árvores para a produção de energia elétrica, só lucrativos se suportados pelo esforço dos contribuintes.

Termina hoje o período de consulta pública ao Plano Nacional Energia Clima 2021-2030 (PNEC 2030), sobre o qual, no que respeita ao uso da biomassa para energia, a ACRÉSCIMO se pronuncia publicamente.

Onde uns olham para os espaços arborizados como fonte de combustível para queima, outros olham para esses espaços como instrumentos de combate às alterações climáticas e de preservação da biodiversidade.

Onde uns olham para os sobrantes das operações silvícolas como “resíduos” para queimar em centrais, outros olham para esses sobrantes como fertilizantes orgânicos. Num caso e no outro, tais sobrantes devem ser sujeitos a transformação mecânica para reduzir o risco da propagação de incêndios, reduzindo-os a material lenhoso de pequena dimensão. Em todo o caso, tais “resíduos”, para além dos avultados custos de remoção e transporte para centrais, induzem grandes perdas energéticas e encargos operacionais face ao elevado teor de material inorgânico (solo arrastado nessa remoção). Curiosamente, nos parques de receção das centrais a biomassa e unidades de produção de pellets vêem-se sobretudo troncos de árvores e não “resíduos” florestais.

Onde uns observam os troncos de árvores como combustível para a produção imediata de energia, outros olham-nas como matéria prima para a indústria transformadora, em sistemas de produção em cascata: de produtos de mais longo sequestro de carbono (mobiliário e madeira para construção), passando por produtos compostos de fragmentos da madeira reutilizada, até um último degrau de utilização de resíduos lenhosos industriais para produzir energia, preferencialmente para autoconsumo no processo industrial.

Onde uns tentam iludir quanto à existência de um grande potencial na biomassa existente em Portugal para a produção de energia, outros constatam a inexistência de um Inventario Florestal Nacional atualizado que dê suporte a tal ilusão. O último inventário concluído em Portugal data de 2005. O Inventário Florestal Nacional realizado em 2010 não chegou a apresentar dados públicos finais, designadamente no que respeita à biomassa disponível.

A evidência da escassez de matéria prima para queima (“resíduos” e troncos) gera pressão sobre os decisões políticos para a instalação de extensas áreas de monoculturas intensivas e superintensivas destinadas à produção energética. Sejam culturas cerealíferas, sejam culturas arbóreas, preferencialmente com recurso a rega. Tais áreas têm vindo a comprometer, em várias regiões do mundo, incluindo na União Europeia, a soberania alimentar, bem como a disponibilidade de água para consumo pelas famílias.

Em Portugal, com a escassez de bons solos para a produção agroalimentar e perante longos (e, asseguram-nos, crescentes) períodos de seca, a opção pela produção de energia através de culturas dedicadas pode ser todas as classificações, menos a de renovável.

Há que ter em atenção que esta pressão pelas culturas dedicadas pode ser a estratégia para viabilizar a reconversão de centrais hoje a operar com carvão (de Sines e do Pego, em Abrantes) para a queima de árvores. Na prática tratar-se-á de um retrocesso civilizacional a 1850, com acréscimo de poluição atmosférica, num contexto de números significativamente distintos, quer em termos de população nacional, quer em termos de consumo per capita.

A utilização do excesso de sobrantes das operações silvícolas (limpezas intra e interespecíficas, desbastes, desramações e podas) como biomassa para energia pode ser considerada em escala local e para a produção de calor, no apoio a infraestruturas públicas e PME de valorização na transformação e comercialização de produções locais.

Por último, sendo a indústria de bioenergia dependente do financiamento público, tal financiamento induz distorções nos mercados, com impacto na perda de postos de trabalho, designadamente nas indústrias que recorrem à matéria prima lenhosa e não dispõe do mesmo nível de apoio. Em Portugal, a perde de emprego na indústria de base florestal tem sido já muito significativa, designadamente face aos incêndios, às pragas e às doenças que vitimam aos espaços arborizados.

O recurso às árvores (existentes ou dedicadas) como combustível só é viabilizado com o esforço financeiro dos cidadãos. O futuro destes, sobretudo das novas gerações, está dependente da criação de espaços florestais sustentáveis, que apoiem no combate às alterações climáticas e sejam o suporte à preservação da biodiversidade. Somos, pois, chamados a assumir posição.