Com as reservas inerentes a necessidade do conhecimento, em
concreto, dos projetos de diploma ontem aprovados em Conselho de Ministros,
parece evidenciar-se alguma coragem política para enfrentar o essencial dos
problemas associados à atividade silvícola em Portugal, a par de uma aparente
menor influência do lóbi da indústria papeleira na tomada de decisão.
Tapada Nacional de Mafra
Com efeito, a estrutura fundiária, a falta de adequado
conhecimento sobre o público alvo principal das medidas de política florestal,
sobretudo pela ausência de cadastro rústico em área de maior risco (quer de
incêndios, mas também de proliferação de pragas e doenças), é um fator decisivo
para a mudança, para a inversão do atual ciclo de declínio e risco acrescido.
O controlo de uma expansão epidémica do eucalipto em Portugal há
muito que vem sendo reivindicado. Uma mera aposta de aumento da oferta para assim
garantir preços baixos à procura na compra de rolaria de eucalipto, trás fortes
prejuízos ao país (aos lenhicultores, às populações rurais e, no futuro
próximo, à própria indústria papeleira). O Governo tem sido titubeante em
relação ao lóbi da fileira do eucalipto. A ação política, apesar do inscrito no
Programa do Governo, tem sofrido até agora forte pressão deste lóbi.
Porventura, as explosivas germinações de eucaliptos nas áreas ardidas em 2017
podem ter evidenciado os riscos de uma ausência efetiva de controlo sobre a
expansão da cultura. Em causa estão mais de 600 mil hectares de eucaliptal em
gestão de abandono e uma área ardida em 2017 superior a 120 mil hectares (ou
seja, 60 vezes a área de Lisboa e mais de 12 vezes em área ardida).
Constatam-se, porém, a falta
de dois instrumentos essenciais, há longo tempo reivindicadas pela Acréscimo:
- a recuperação do serviço de extensão florestal (de acompanhamento técnico e comercial aos produtores florestais, com ligação estreita à investigação); e,
- a reconstituição da entidade reguladora de mercados (há muito a funcionar em concorrência imperfeita).
Estes dois instrumentos
serão essenciais para a produção de uma mudança no rendimento silvícola, logo
na gestão destes espaços e, bem assim, na contenção dos riscos associados.