quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Deposição de lamas em solos florestais.

O recente relatório da QUERCUS sobre as lamas de ETAR, levanta fortes suspeitas sobre a potencial deposição ilegal destes resíduos nos solos, sejam tais resíduos decorrentes de processos de natureza urbana ou industrial.

Os impactos da aplicação ou do armazenamento ilegais destes resíduos nos solos podem fazer-se sentir, entre outros, na contaminação destes e dos lençóis freáticos, designadamente de metais pesados, ou na criação de impermes que inviabilizem posterior utilização agroalimentar ou florestal.

Os solos florestais, pelas maiores distâncias aos aglomerados populacionais, podem estar mais suscetíveis a más práticas de aplicação de lamas, ou mesmo ao armazenamento ilegal destes resíduos. O problema adquire maior relevo em áreas de floresta certificada, situação que a ocorrer pode comprometer a própria certificação.







Nestes termos, aguarda-se que a Inspeção-Geral da Agricultura, do Mar, do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAMAOT), no cumprimento da sua missão, inspecione e inviabilize práticas que sejam contrárias à Lei. As dúvidas expressas pela QUERCUS merecem, no mínimo, um esclarecimento público, por parte da IGAMAOT, de garantia do cumprimento da legislação em vigor.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Os dados do 6.º Inventário Florestal Nacional: Exótica domina o espaço florestal português.


Está agendada para o início da próxima semana a apresentação pública dos resultados do 6.º Inventário Florestal Nacional (IFN6).

De acordo com os resultados preliminares tornados públicos, o eucalipto domina os espaços florestais nacionais, contudo, os dados apontados, de 750 mil hectares de eucaliptal, merecem a maior reserva, por serem considerados muito aquém da realidade. Entre povoamentos puros e povoamentos onde se encontra misturado com outras espécies, onde o eucalipto predomine ou seja minoritário, a expetativa aponta para valores mais próximos de um milhão de hectares de eucaliptal em Portugal, a quinta maior área no Mundo. A área de eucalipto em Portugal duplicou nos últimos 30 anos, essencialmente pela reconversão de áreas de pinhal bravo ou pela florestação de solos anteriormente com uso agrícola. A produtividade média anual contudo mantém-se inalterada.


Por princípio, a Acréscimo não se manifesta quanto a espécies específicas, mesmo exóticas, desde que não invasoras e desde que sejam assumidas medidas mitigadoras dos impactos que estas possam causar nos ecossistemas nacionais, e pela dimensão da área que ocupem sejam geradoras de mais-valias para a atividade silvícola e para a economia florestal.

Todavia, são vários os indicadores que contrariam os benefícios desta duplicação da área de eucaliptal.

No que respeita aos preços unitários pagos à produção (à porta da fábrica), fator decisivo para a rentabilidade do negócio silvícola e assim fundamental para a garantia de uma gestão florestal ativa, regista-se, de acordo com os valores expressos na Estratégia Nacional para as Florestas (ENF), uma redução superior a 40% entre 1990 e 2005. As últimas Contas Económicas da Silvicultura, publicadas pelo INE em junho de 2012, não contrariam esta tendência ao longo da última década.

Apesar da duplicação da área de eucaliptal em Portugal, o peso do Valor Acrescentado Bruto da silvicultura no VAB nacional e o peso do setor florestal no PIB evidenciaram francas reduções, no primeiro caso de 67% entre 1990 e 2010 e no segundo de 40% ao longo da década 2000-2010. Poder-se-à constatar que, quanto maior a degradação do montado, menor a área de pinhal bravo e maior a área de eucalipto, menor é o valor económico da floresta portuguesa e menor é o peso do setor florestal no Produto Interno Bruto.

Contudo, o problema de fundo reside ao nível da gestão florestal. Os dados do IFN6 apontam para a substituição, em número de hectares, de uma espécie lenhosa, com elevada combustibilidade e com deficiente gestão, por outra espécie lenhosa, exótica, de elevada combustibilidade e com deficiente gestão. A ausência de uma adequada gestão florestal tem como resultado a propagação dos incêndios e a proliferação de pragas e de doenças. Consequências essas que têm sido cada vez mais evidenciadas nos últimos anos em Portugal.

Em conclusão, os dados do IFN6, acrescidos da massificação do eucaliptal em Portugal (por massificação entenda-se o aumento indiscriminado de área, sem uma aposta na gestão e na melhoria da produtividade) permitem perspetivar a manutenção do status quo, com a diminuição do peso económico da floresta e a sua destruição pelo fogo, pragas e doenças.