quarta-feira, 28 de agosto de 2024

Organizações não governamentais dos EUA, Canadá, Letónia, Estónia e Portugal apelam ao novo governo do Reino Unido para parar de subsidiar Drax para queimar árvores das florestas dos seus países

27 de agosto de 2024 - 41 organizações de países que exportam pellets de madeira para o Reino Unido escreveram hoje ao Secretário de Estado Ed Miliband, instando-o a não ceder ao lóbi de Drax por novos subsídios assim que o apoio existente termine em 2027 . [1] A central termoeléctrica a biomassa de Drax, em Yorkshire, queima mais madeira do que qualquer outra central no mundo, toda ela (quase 6 milhões de toneladas de pellets de madeira em 2023) importada. O Reino Unido paga mais subsídios para a queima de madeira, principalmente nas centrais termoeléctricas, do que qualquer outro país da Europa, e Drax é de longe o maior beneficiário destes subsídios. O governo anterior propôs vários anos de novos subsídios, os chamados “transitórios”, para Drax e possivelmente para a central termoeléctrica de Lynemouth, que, de acordo com a sua avaliação de impacto, poderiam ascender a 2,5 mil milhões de libras por ano .





A maioria dos pellets de madeira queimados em Drax vêm do sudeste dos EUA e do Canadá.


Adam Colette, da Dogwood Alliance, [2] com sede na Carolina do Norte, afirma: "As nossas florestas e comunidades há muito que sofrem com as práticas destrutivas da indústria da biomassa. A devastação é liderada pela Drax e financiada pelo governo britânico. A nossa esperança é que uma nova administração veja os impactos que advêm de soluções falsas que prejudicam as pessoas e o ambiente no sul dos EUA e deixam de subsidiar as empresas que destroem o planeta."


Len Vanderstar, Diretor da Bulkley Valley Stewardship Coalition na Colúmbia Britânica [3], acrescenta: “Dado que o mundo se aproximou e até ultrapassou os pontos de viragem no que diz respeito ao aquecimento global, a solução para as alterações climáticas não é uma maior desverdização do planeta.


Drax queima também quantidades substanciais de pellets de madeira provenientes da Letónia, Estónia e Portugal.


Liina Steinberg, membro do Conselho da Save Estonia's Forests [4], afirma: “A pressão sobre as florestas da Estónia continua a aumentar rapidamente. A procura da indústria da biomassa florestal, incluindo a exportação para o Reino Unido, soma-se à crescente procura de pasta de papel, papel e produtos bioquímicos. Para fornecer toda esta madeira, novas propostas legislativas - fortemente apoiadas pela indústria - prevêem as primeiras plantações de árvores em grande escala na Estónia, bem como o enfraquecimento das protecções de áreas naturais supostamente protegidas.»


Viesturs Ķerus da Sociedade Ornitológica da Letónia [5] afirma: “Na Letónia, estamos a assistir a declínios nas populações de espécies florestais que deveríamos proteger, habitats florestais de importância internacional estão a ser destruídos e perdemos o sumidouro de carbono florestal. Embora existam vários factores envolvidos, a procura subsidiada de biomassa para queima por parte do Reino Unido e de outros países é, sem dúvida, um factor importante por detrás desta degradação das nossas florestas.”


Paulo Pimenta de Castro da Acréscimo - Associação de Promoção ao Investimento Florestal [6] acrescenta: “Em Portugal, a produção de pellets para energia, maioritariamente para exportação, bem como a queima direta de biomassa têm provocado uma perda significativa de cobertura arbórea, afetando espécies autóctones, nomeadamente pinheiros e carvalhos . Esta perda está associada à expansão das plantações de eucalipto e à invasão de acácias, que têm um impacto crescente nos incêndios florestais.”


Os grupos que assinaram a carta apelam ao governo para que utilize o dinheiro poupado ao não conceder novos subsídios a Drax e à Lynemouth Power para apoiar energias renováveis ​​limpas e genuinamente de baixo carbono, como a energia eólica e solar.


domingo, 25 de agosto de 2024

O incêndio na ilha da Madeira: perigos vindouros

 O incêndio florestal que, desde 14 de agosto, percorre zonas sensíveis da ilha da Madeira já consumiu uma área superior a metade da superfície do concelho da capital portuguesa, Lisboa.

Parte da área percorrida pelas chamas corresponde a património natural nacional classificado a nível da União Europeia e mundial, seja no âmbito da Rede Natura 2000, seja pela UNESCO como Património Natural da Humanidade. Este património engloba espécies da flora e fauna ímpares, endémicas da Região Autónoma e da Macaronésia. Este facto, só por si, aumenta significativamente as responsabilidades das autoridades regionais e nacionais na sua conservação e preservação.

Apesar de haver ainda um elevado perigo de reacendimentos, associados à significativa área ardida no incêndio em curso, à Acréscimo preocupam já as consequências deste destruidor agente abiótico.

Após a extinção do incêndio, deve de imediato preocupar as autoridades o COMBATE À EROSÃO E PREVENÇÃO DE CHEIAS.

A Madeira devido à sua orogénese, apresenta encostas com declives cujo gradiente favorece o desprendimento de materiais rochosos de grandes dimensões; as águas de escorrência superficial podem adquirir acelerações muito elevadas, com libertação de energia destruidora, como aliás se viu em 2016. É fundamental quebrar este fenómeno seja pela arborização das encostas seja com a criação de bacias de retenção (onde isso for possível). As linhas de água têm de ser desobstruídas e respeitado o seu trajeto natural. Este incêndio e tudo o que perturbe o coberto vegetal potencia fenómenos erosivos com perda drástica de solo, que irá acumular-se nas linhas de água impedindo o escoamento natural ocasionando cheias que poderão ser temíveis.



É necessário pensar na RECUPERAÇÃO DAS ESPÉCIES ENDÉMICAS como a vegetação de altitude e a floresta de lauráceas vulgarmente chamada de Laurissilva. Esta é uma floresta pristina da zona mediterrânica e a Madeira possui um dos últimos resquícios desta bela floresta, que ao longo de milénios temos vindo a destruir; exemplares de vinhático (Persea indica (L.) Spreng. do til (Ocotea foetens (Aiton) Baill, o barbusano (Apollonias barbujana (Cav.) Bomm.) e o louro (Laurus canariensis Webb et Berth., non Willd.) este último espontâneo nos arquipélagos da Madeira, Açores e Canárias.

A criação de locais interditos a humanos e animais é fundamental para preservar o rico e frágil coberto vegetal e a biodiversidade da Madeira. Há locais onde devia ser absolutamente proibida a presença humana até para sua própria proteção e proteção da biodiversidade. 

Pode causar algum impacto no turismo, mas se a bela ilha da Madeira se transformar num deserto não há turismo que lhe valha.

Ao nível da SAÚDE PÚBLICA importa diagnosticar casos decorrentes da drástica redução da qualidade do ar, associada à pluma do incêndio, com a emissão de gases com efeito estufa, designadamente de monóxido e dióxido de carbono, óxidos nitrosos e material particulado, com impacto direto e severo no sistema cardiorrespiratório da população, especialmente nos idosa, nas crianças e em doentes com doenças crónicas do foro cardíaco e pneumológico.

A Acréscimo recomenda às autoridades regionais e nacionais que, de forma célere, estabeleçam e concretizem as medidas necessárias à prevenção dos perigos pós-incêndio na ilha da Madeira. Sabemos, do histórico nacional, que tais medidas têm tardado ou têm sido inexistentes. No caso da ilha da Madeira, relembramos os fortes impactos das cheias ocorridas na ilha após os incêndios registados em 2016. Sabemos que consequências poderemos vir agora a enfrentar, por isso alertamos para as responsabilidades acrescidas das autoridades políticas em atenuar tais impactos destrutivos para o ambiente e para as populações.

L


quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Alerta para os perigos do aumento da capacidade de queima de biomassa florestal para energia

 

19 de outubro assinala o Dia Internacional contra o Uso de Biomassa em Larga Escala 

Em Portugal o aumento da capacidade do uso de biomassa para a produção de energia coincide com o aumento da área ardida em povoamentos florestais


O Governo aprovou recentemente em Conselho de Ministros um diploma para o lançamento de um concurso destinado à atribuição dos títulos de reserva de capacidade para a injeção na rede elétrica de serviço público da eletricidade produzida a partir da queima de biomassa florestal, para um total de 60 MW e um máximo de 10 MW por central, com financiamento de 2 milhões de euros e uma taxa de financiamento de 100%.


Embora as pequenas centrais termoelétricas a biomassa florestal, de pequena dimensão e base local, possam ter um contributo positivo na valorização energética dos sobrantes de silvicultura (de desbastes, desramações ou podas) e de exploração florestal (ramos e bicadas), apesar da baixa eficiência desta conversão, Portugal dispõe já de uma capacidade industrial instalada de queima de biomassa superior a 865 MW, com a necessidade de uma quantidade de biomassa florestal primária anual superior ao dobro do recomendado como disponível, no raras vezes constituída, não por sobrantes, mas por troncos de árvores. Os acréscimos na capacidade industrial neste domínio fizeram-se sentir sobretudo em 2006 e 2016, pela aprovação de licenciamentos.


A capacidade industrial de queima de biomassa para a produção de eletricidade em Portugal está associada a unidades com potências superiores a 10 MW, onde as empresas de celulose produzem quase 80% da eletricidade obtida pela combustão de material lenhoso (ver gráfico 1). As capacidades de produção de eletricidade pela queima de biomassa em larga escala foram objeto de um relatório publicado no presente ano pela BIOFUELWATCH, pela EPN (Environmental Paper Network), pela QUERCUS, ACRÉSCIMO e IRIS.


Gráfico 1



Perigos da queima de biomassa para energia:


  1. Perigo de potenciar incêndios (ver gráfico 2), particularmente em povoamentos florestais.


O aumento da capacidade industrial de queima de biomassa para energia, associada ao aumento da capacidade de produção de pellets de madeira, tem coincidido com a crescente tendência de envolvimento dos povoamentos florestais na área ardida total em Portugal. O argumento da redução do perigo de incêndio florestal pela valorização energética da biomassa florestal primária não passa de um perigoso mito propagandeado pelo sector industrial. O facto é que o material lenhoso ardido tem um custo de aquisição substancialmente mais baixo do que o material verde e possui ainda menor teor de humidade, fatores positivos para a sua utilização para “valorização energética”



Gráfico 2


  1. Perigo de aumento da perda de coberto arbóreo autóctone.


A pressão exercida por uma elevada capacidade industrial instalada, seja para queima direta de biomassa ou queima diferida pela produção de pellets, faz sentir particularmente em espécies arbóreas autóctones, sabendo que a utilização preferencial da rolaria de eucalipto está associada à produção de pasta celulósica. Nesta perda de coberto autóctone tem estado associada aos cortes em “faixas de gestão de combustíveis”. Após o registo de uma situação de desflorestação, ocorrida entre 1995 e 2010, entre 2010 e 2015 a inversão ocorreu sobretudo pela expansão de plantações de eucalipto. Lamenta-se que o próximo Inventário Florestal Nacional só esteja previsto para 2025


  1. Perigo de expansão de espécies exóticas e invasoras.


Por um lado, pelo rápido crescimento, o eucalipto tem uso potencialmente crescente para fins energéticos, associados a plantações de elevada e muito elevada densidade, na ordem dos 3 a 5 mil plantas por hectare (para a produção de celulose papel ronda as 1200 plantas/hectare). A pressão sobre o solo e o regime hídrico cresce substancialmente. Por outro lado, a “valorização energética” de espécies invasoras, como as acácias, a pretexto do seu controlo, tende a expandir a área ocupada por estas espécies, pela disseminação de sementes no processo de exploração e transporte para unidades fabris.


  1. Perigo de mais emissões, poluição e doenças cardiorrespiratórias.


A queima de material lenhoso gera a emissão, entre outros, de monóxido e dióxido de carbono, de óxidos nitrosos e de material particulado, produzindo acréscimo de emissões de gases de efeito estufa, de poluição atmosférica e danos para a saúde pública, com particular ênfase nas doenças respiratórias e cardíacas.



Recomendações:

Se o Governo pretende efetivamente valorizar os sobrantes silvícolas e reduzir o perigo de incêndio florestal, a recomendação deve passar pela:

  • Valorização como fertilizantes, na produção de compostos orgânicos, designadamente através de sistemas de compostagem, de base residencial e local;

  • Aplicação da biomassa triturada em estilha para promover a fertilização e a regeneração da floresta.

  • Pela valorização energética, mas pela produção de calor, em unidades de base local, de cariz social ou industrial (p.e., no setor agroalimentar), onde a taxa de eficiência ronda os 80%, ao contrário da produção de eletricidade, onde nem atinge metade dessa eficiência (pouco mais de 30%), por vezes pouco passa de um quarto.



segunda-feira, 18 de setembro de 2023

Embalagens descartáveis de papel têm forte impacto na biodiversidade e em futuros incêndios florestais em Portugal

A União Europeia (UE) está a rever o Regulamento de Embalagens e Resíduos de Embalagens (PPWR). Neste contexto, as embalagens de papel e cartão têm um forte destaque, sendo de prever um aumento da procura,  alicerçada na urgente necessidade de redução do uso do plástico e associado às características de renovação e biodegradação da madeira.

A revisão dessas regras pela UE é encarada pela indústria de celulose como uma oportunidade de expansão da sua área de negócio, associada às fibras da madeira, aos “biomateriais”. Em Portugal, essa oportunidade tem suscitado um aumento da pressão das celuloses sobre a governação para o aumento das áreas de plantações de eucalipto.

As embalagens de papel e cartão estão associadas à produção de madeira para triturar. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), na publicação das Contas Económicas da Silvicultura de 2021, em junho deste ano, a produção de madeira para triturar triturada representou em 2021 (dados provisórios) 41,4% da produção de madeira, cortiça e outros bens silvícolas, o vlor mais alto desde 2015. Já a produção de cortiça e de madeira para serração representaram apenas 24,4% e 20,2%, respetivamente. Face a 2020, em 2021 a produção de madeira para triturar aumentou 2,5%, ao contrário da produção de cortiça que contraiu 6,0%. Em 2021, o Valor Acrescentado Bruto (VAB) da silvicultura registou uma contração de 1,8%, mantendo a tendência decrescente registada desde 2015. O VAB da silvicultura representa atualmente menos de metade do peso  registado em 2000. Ou seja, o aumento na produção de madeira para triturar ao longo deste período de tempo não tem peso económico significativo  para a silvicultura nacional. Os reflexos fazem-se sentir não só na economia, mas têm impacto social, no emprego, e ambiental, na perda de biodiversidade e em emissões de gases de efeito estufa decorrentes da tendência crescente dos incêndios, sobretudo em áreas de “povoamento florestal”.

A produção de madeira para triturar, essencial para a produção de embalagens, de papel de escritório e de “bio”energia, está associada em Portugal, sobretudo, às plantações de eucalipto, a extensas áreas de monocultura, a modelos de silvicultura intensiva, a crescente risco de incêndio. A expansão da área destas plantações, pelo peso crescente da área sob gestão de abandono nas últimas décadas em Portugal, acarretará significativos problemas sociais e ambientais no futuro, entre os quais os associados aos incêndios florestais e emissões decorrentes, como assistimos recentemente em Odemira, em Ourém/Leiria e em Coimbra.

O mito da aposta “verde” nos “biomateriais”, nas “forest fibers” tem consequências negativas, motivo pela qual a Acréscimo manifesta a sua preocupação face ao oportunismo associado à revisão do normativo da UE protagonizado por parte da indústria de celulose. No plano europeu, a Environmental Paper Network (EPN) e a Fern produziram e divulgaram um vídeo sobre os impactos do uso de embalagem descartáveis de papel e cartão, no caso, associados ao setor alimentar, nomeadamente ao “fast food” e ao “take away”.

O embalamento em papel tem algumas vantagens sobre o uso de plástico no que diz respeito à sustentabilidade. São mais fáceis de reciclar e, por serem biodegradáveis, podem ser utilizados para fins como compostagem. No entanto, a produção de papel exige muitos recursos: p.e., fabricar um saco de papel consome mais energia do que a produção de um saco de plástico, e os produtos químicos e fertilizantes utilizados na produção de sacos de papel criam danos adicionais para o ambiente. Estudos demonstraram que, para um saco de papel neutralizar o seu impacto ambiental em comparação com o plástico, teria de ser utilizado entre três e 43 vezes. Como os sacos de papel são os menos duráveis de todas as opções de ensacamento, é improvável que um consumidor aproveite o suficiente de qualquer saco de papel para equilibrar o impacto ambiental. O facto de o papel ser reciclável tem as suas limitações. Como as fibras do papel ficam mais curtas e mais fracas cada vez que ocorre o processo de reciclagem, existe um limite de quantas vezes o papel pode ser reciclado.


Se qualquer material de embalamento tem o seu impacte ambiental, seja papel, plástico, tecido, vidro ou outro, o fundamental é optar por aquele material que garanta maior capacidade de reutilização. O embalamento à base do corte de arvoredo tem, a este nível, enormes limitações. Por outro lado, o uso de madeira para embalamento descartável gera menos emprego, menor valor acrescentado na silvicultura, tem maior impacto na perda de biodiversidade e está associado a bens que rapidamente libertam para a atmosfera o carbono antes sequestrado pelo arvoredo, carbono esse que contribui para o aquecimento global, o que acarreta fortes consequências em futuros incêndios florestais.


quinta-feira, 31 de agosto de 2023

Quercus e Acréscimo alertam para grande presença do eucaliptal no incêndio de Odemira


Preocupante o impacte no Sítio da Rede Natura de Monchique

 

A QUERCUS e a ACRÉSCIMO estão preocupadas com os grandes incêndios que têm afetado o território desde o final da semana passada, devido aos impactes sobre os ecossistemas florestais e afetação dos serviços ambientais, incluindo a degradação da qualidade do ar.

Este ano a área ardida em espaços rurais ultrapassou já os 25291 hectares, segundo dados do  Instituto de Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) a 8 de agosto, com 57% em área de povoamentos florestais, num total de 5743 ocorrências.

O incêndio com início no Vale da Telha, freguesia de São Teotónio, no concelho de Odemira, no passado sábado, dia 5, já ultrapassou os 10 mil hectares de área ardida, sendo o maior do ano e tendo atingido áreas nos concelhos de Aljezur e Monchique.

Eucaliptais da The Navigator Company arderam - fica a nu o mito da “boa gestão”



O fogo tem afetado vastas áreas de eucaliptal da antiga Portucel (The Navigator Company), nos concelhos de Odemira e Monchique, mas também zonas de floresta mediterrânica na base da serra de Monchique, apesar do reforço de meios de combate que ultrapassaram os 1100 operacionais, 340 viaturas e até 15 meios aéreos alocados pelas autoridades.

A QUERCUS e a ACRÉSCIMO, consideram que as plantações de eucalipto configuram grandes áreas contínuas de monocultura que devem ser reequacionadas. Isso é fundamental para reduzir o risco de propagação de incêndios devido a projeções de materiais incandescentes a grande distância, as quais dispersam focos secundários de fogo e, portanto, dificultam o controlo e extinção do incêndio como se está a verificar em várias áreas, nomeadamente em Odemira, Aljezur e Monchique.

Zona Especial de Conservação de Monchique da Rede Natura afetada

O incêndio de Odemira, está a destruir parte da Zona Especial de Conservação (ZEC) de Monchique da Rede Natura 2000, que integra também a Zona de Proteção Especial (ZPE) para a avifauna. Destaca-se a importante população de águia de Bonelli (Aquila fasciata) com estatuto de conservação ‘Em Perigo de extinção’. Ocorrem também alguns habitats relíquia como os adelfeirais sobretudo nas encostas e fundo dos vales da vertente norte da Serra de Monchique, mas também outras áreas de floresta mediterrânica biodiversa dominada por sobreirais.

A QUERCUS e a ACRÉSCIMO apelam à necessidade de reconverter antigos eucaliptais que tinham sido plantados em áreas de floresta mediterrânica, apostando em espécies mais resilientes ao fogo, o que é essencial para uma resposta estrutural aos problemas que enfrentamos, sobretudo em áreas sensíveis vocacionadas para conservação da natureza, como é a ZEC de Monchique da Rede Natura 2000.

A QUERCUS e a ACRÉSCIMO reforçam que manter o eucalipto revela falta de visão estratégica ao comprometer o futuro do território e a própria economia rural devido à maior vulnerabilidade aos incêndios, pela perda de serviços dos ecossistemas e afetação da atividade de turismo nesta área do Litoral Alentejano e Algarve.

Esperamos que a The Navigator Company se comprometa com verdadeiras medidas de conservação, reconvertendo os eucaliptais, reduzindo a sua área conforme o disposto na legislação, nomeadamente na Estratégia Nacional para as Florestas, o que contrasta com a pressão da indústria de celulose para novas plantações de eucalipto.

 

Lisboa, 9 de agosto de 2023


A Direção Nacional da QUERCUS, Associação Nacional de Conservação da Natureza

A Direção da ACRÉSCIMO, Associação de Promoção ao Investimento Florestal


terça-feira, 27 de junho de 2023

Quercus e Acréscimo alertam para ausência de medidas estruturais para reduzir o perigo de incêndio em Pedrógão Grande

No dia da inauguração do Memorial às Vítimas do incêndio de Pedrógão, passado 6 anos a Quercus e a Acréscimo divulgam vídeo:

Nunca esqueceremos Pedrógão



 

Na anunciada inauguração do Memorial às Vítimas do grande incêndio de Pedrógão Grande, em junho de 2017, do qual resultaram mais de seis dezenas de vítimas mortais, a QUERCUS e a ACRÉSCIMO relembram, seis anos passados, a ausência de medidas estruturais para a redução do perigo de incêndios, sobretudo ao nível da paisagem.


Para que seja possível realizar ações de transformação à escala da paisagem, atualmente em colapso, é necessário adaptar instrumentos financeiros de apoio à realidade local, concretamente dos fundos da Política Agrícola Comum (PAC) previstos para o período 2023/2027, adequando esses apoios a modelos agroflorestais sustentáveis, compensando perdas de rendimento durante o período de alteração da paisagem. Os territórios dominados pelo minifúndio em Pedrógão Grande, como em outras áreas, tem sido excluídos dos apoios da PAC, o que levou ao abandono rural com as consequências desastrosas para as pessoas e floresta, considerando a necessidade de preservar o solo e os recursos hídricos, face à nova realidade climática.


A QUERCUS e a ACRÉSCIMO constatam, para além da desadequação de meios financeiros, a ausência de suporte técnico local para a necessária alteração da paisagem, a omissão do Estado potencia a intervenção dos setores industriais que contribuíram para a atual situação de colapso.


A QUERCUS e a ACRÉSCIMO denunciam ainda o aparente “engavetamento” dos Programas de Reordenamento e Gestão da Paisagem (PRGP), em concreto o relativo às Serras do Açor e Lousã, com incidência direta na região de Pedrógão Grande. É pública a oposição da indústria papeleira ao surgimento para discussão pública deste instrumento de gestão territorial. Estará o Governo subordinado a estes interesses específicos?





 

quinta-feira, 4 de maio de 2023

2022 foi o segundo pior ano na União Europeia em área ardida. Portugal teve o terceiro pior registo do ano na EU

O mais recente relatório disponibilizado no âmbito dos Sistema Europeu de Informação sobre Incêndios Florestais (EFFIS, na sigla em inglês), aponta 2022 como o segundo pior ano na Europa em termos de áreas ardidas e número de incêndios desde 2006. A área ardida na União Europeia (UE) foi a segunda maior de sempre, apenas atrás do ano de 2017. A área ardida na EU foi estimada em 881.275 hectares. Os estados-membros mais atingidos foram, por ordem decrescente de área ardida, a Espanha, a Roménia e Portugal. De acordo com o relatório, a análise preliminar dos prejuízos económicos decorrentes dos incêndios florestais na UE estima perdas de cerca de 2,5 mil milhões de euros.

Em 2022, Portugal manteve-se no “pódio” da área ardida na EU, com 112.063 hectares, o pior registo desde 2017. A área ardida no nosso país foi apenas ultrapassada pela área ardida em Espanha, com 315.705 hectares mapeados, e na Roménia, com 162.518 hectares. Em 2023, de 1 de janeiro até ao momento já arderam 7.590 hectares, o equivalente a 3/4 da superfície do concelho de Lisboa.

Importa ter presente a presença sistemática de Portugal no “pódio” da área ardida na União Europeia, em termos absolutos. Mesmo sem ter em consideração os fenómenos associados às alterações climáticas, o território nacional foi predisposto a um elevado perigo de incêndios, fruto da ausência de medidas políticas de combate ao êxodo rural e, pelo contrário, à aposta política na massificação da produção de madeira associada ao minifúndio, ao desmantelamento de serviços de apoio técnico no terreno (extensão florestal) e de regulação de mercados, claramente a funcionar em concorrência imperfeita. A manutenção desta aposta, associada às alterações climáticas e ao avanço da desertificação, tornam cada vez mais apertada a janela de oportunidade para a adoção de medidas, necessariamente musculadas, de alteração do status quo em parte muito significativa do território continental português.



A Acréscimo tem forte convicção da perda de oportunidade associada ao que vendo sendo conhecido do desempenho do PRR (Plano de Recuperação e Resiliência) e do que se perspetiva para o próximo PDR (Programa de Desenvolvimento Rural 2030).

É evidente para a Acréscimo a falta de medidas estruturais para enfrentar o problema dos incêndios florestais no pós-2017 em Portugal. Atribuímos ponto positivo à evacuação de populações durante as ocorrência para evitar mortalidade humana. Todavia, este ponto positivo não é mais do que uma medida de recurso. Por outro lado, as “portas giratórias” continuam a condicionar o Estado a medidas políticas para o colapso.